A popularidade de Jair Bolsonaro ganhou volume nos respeitáveis Superpop e CQC, para depois conquistar alguma credibilidade com o encontro – e o amor, estranho amor – entre o deputado e o economista Paulo Guedes. Um desconhecia o outro que ignorava o um, mas o político precisava de alguém que lhe emprestasse respeitabilidade, e o economista carecia de alguém que lhe desse poder.
Fiat lux.
No despedaçado cenário do já de costume esculhambado cenário da política nacional, ainda mais depois de tantos protestos, impeachment, prisões, pressões e delações, e com Sérgio Moro nos calcanhares de Lula, Bolsonaro e sua campanha souberam colonizar o vácuo ideológico que ninguém soube ou teve coragem de ocupar.
Esse mérito ele teve, mesmo que do vácuo ideológico só tivesse o vácuo.
Durante a corrida eleitoral, quadros respeitáveis da imprensa acreditaram que desidratariam a candidatura se jogassem Bolsonaro contra a parede de seus próprios preconceitos e de suas controversas declarações sobre ditadura militar, homossexualidade, feminismo, democracia. Enganaram-se.
Ao fazer isso, sem perceber davam a ele o que ele queria, que era a oportunidade para ser incisivo no único terreno em que sabia jogar: a bravata politicamente incorreta, a frase de efeito, o jargão fácil, o sentido espartano da ética, o bem contra o mal.
Se lhe tivessem perguntado, a sério e com frequência, o que ele entendia ou deixava de entender por reformas previdenciária, tributária e política, como faria a abertura econômica e conduziria as privatizações, o que pensava sobre a relação entre Estado e empresas, e sobre os limites estatais etc, talvez tivesse derretido sob o sol a pino de sua clamorosa ignorância.
Dessa falta de imaginação no debate, desse impulso suicida que levou muitos jornalistas, candidatos adversários e figuras do mercado a confrontar o Messias no que ele tinha de mais genuíno – e, a seu modo, popular –, restou hoje um presidente que confessa, dia após dia, por pensamentos, atos, palavras e omissões, não ter ideia nenhuma na cabeça além daquelas piadas engraçadinhas que lhe renderam tantos milhões de votos.
Aos poucos, essa miraculosa entidade – o mercado – vai descobrindo que apostou em Bolsonaro como se apostasse em ações de perigosa volatilidade, e talvez tenha apostado mal. Havia opções mais experientes ou interessantes, porém ignoradas em favor do canto de sereia do Chicago boy.
Se, portanto, esse governo que mal começou vier a terminar antes do tempo, parte considerável da responsabilidade será também desses entes e agentes econômicos que tratam o futuro do país como mercado futuro, e não mais do que isso.
Olavo de Carvalho há poucos dias sentenciou que “se o governo continuar como está, acaba em seis meses”. Concordo com ele, embora faça uma ressalva: Olavo tem razão, mas não exatamente as razões que imagina ter.
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