Foto de Gabriela Biló/ Estadão| Foto: ESTADAO CONTEUDO
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No dia 26 de junho de 1968, no centro do Rio de Janeiro, aproximadamente cem mil pessoas protestaram contra a violência policial e os atos ditatoriais. Estudantes, intelectuais, artistas, religiosos, profissionais de todo tipo e populares tomaram parte naquela que ficou conhecida como Passeata dos Cem Mil. Àquela altura, o regime militar cassava direitos políticos, censurava a imprensa, perseguia oposicionistas. O estado de exceção duraria ainda quase vinte anos.

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Com a forte pressão por eleições diretas, o plano de “abertura lenta, gradual e segura”, mais lenta e gradual que propriamente segura, e finalmente a promulgação da Constituição de 88, o povo brasileiro pôde errar por conta própria de novo. Não julgo; constato. Entre tentativas louváveis e erros clamorosos, chegamos ao ano de 2018 com corpinho de 1968. Elegemos quem elegemos. Elegemos quem representa o que deveria ser irrepresentável numa democracia moderna.

Hoje, uma outra multidão protesta, mas protesta silenciosamente. Nesse protesto não há pés, palmas, panelas, apitos. Cem mil pessoas, talvez o dobro disso, morreram acometidas por uma doença que não existia há cinco meses e, de acordo com o chefe do Executivo, não passa de uma gripezinha. Cem mil pessoas, talvez o dobro disso, morreram acometidas por uma brutal, contagiosa, indesculpável doença política.

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Não é possível evitar todo contágio, todo azar, toda morte. Mas é possível exigir que se tomem todas as medidas, que se façam todos os arranjos, que se estudem todas as soluções, para minimizar o potencial destrutivo de uma pandemia como a que enfrentamos. Outros países provaram que sim.

Jair Bolsonaro, por sua vez, não faz nada. Minto: Jair Bolsonaro faz o que está ao seu alcance para atrapalhar, confundir, agravar o mal. Promove aglomerações, desacredita medidas sanitárias, patrocina remédios de eficácia duvidosa, demite ministros minimamente capazes, ironiza a morte.

Para aquele que será conhecido, e justamente conhecido, como o pior presidente da história brasileira, uma história que já não é avarenta em matéria-prima ruim, “vamos chegar a 100 mil mortos, mas vamos tocar a vida”. É isso o que o presidente brasileiro tem a dizer sobre um número de guerra, de calamidade, de devastação: “– Vamos tocar a vida”.

Pesquisas recentes dão conta de que Jair Bolsonaro é o favorito à vitória na eleição de 2022.

Vamos tocar a vida.

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