Geoff Dyer nasceu em Cheltenham, Inglaterra, há 61 anos.
Especialista em coisa nenhuma e interessado em todas as coisas, pratica um esporte com poucos adeptos e pequena torcida por aqui: o ensaio literário, com ambição estética, que os ingleses chamam de personal essay, bem diferente daquilo que, na academia, conhecemos como ensaio: trezentas laudas de chatice, fartas de tabelas, números, notas e teorias que despencam a cada página lida.
Dentre os ensaístas literários vivos, vivíssimos, aliás, ele é o meu predileto. Já escreveu sobre a história do jazz, sem tocar uma nota (Todo aquele jazz) ; sobre viagens à Índia, a Amsterdam, ao ácido e à própria cabeça, sem ter um pingo de juízo (Ioga para quem não está nem aí); sobre fotografia, sem tirar uma foto (O instante contínuo); sobre a guerra, sem ter dado um tiro (The missing of the somme); sobre a experiência de ser filho único, como se fosse o único filho do mundo (Working the room).
Escreveu sobre isso e muito mais que isso, num tipo de texto de não-ficção que se lê como ficção (e seus textos de ficção, como Jeff em Veneza, morte em Varanasi, podem ser lidos como se não fossem de ficção. É esquisito, mas funciona).
Eis que alguma boa ou diabólica alma propôs a Dyer viver num porta-aviões americano durante 14 intermináveis dias. Ele aceitou, para seu azar. Ele aceitou, para nossa sorte. Daí surgiu o livro Mais um dia magnífico no mar – a vida num porta-aviões americano (Cia das Letras, 2016).
Descobri que poucas coisas podem ser tão americanas quanto um porta-aviões americano. A disciplina, o sentido do dever, o patriotismo, a mentalidade otimista e até ingênua afloram num ecossistema bastante peculiar, principalmente quando esse ambiente é descrito por um sujeito que mais parece um dos personagens de Wes Anderson.
Dyer, ao contrário dos atléticos e comprometidos oficiais da Marinha ianque, é alto, magro, vegetariano, preguiçoso, insubordinado, egocêntrico e infantil. Sim, o britânico é tudo isso, mas é também inteligente, perspicaz, bem-humorado, excêntrico, observador e, a seu modo, gentil. Seu estranhamento só não é maior que sua empatia.
Imaginem a situação. Imaginem as situações. Pensando bem, não imaginem coisa nenhuma. Imaginar é, nesse caso, mais pobre que ler; deixemos que ele imagine por nós. Muito melhor do que passar duas semanas no mar, a bordo de um vasto e ao mesmo tempo claustrofóbico navio de guerra, é ler o diário de uma figura como Geoff Dyer, que nos conta como se safou de sua inusitada missão.
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