Foto de Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo| Foto:

O economista Pedro Menezes, desta Gazeta, escreveu o seguinte: “Um dos melhores remédios para a democracia brasileira é a reforma da Previdência. Se você tem medo de uma guinada autoritária agora, a história justifica que você triplique seu medo em caso de instabilidade econômica”.

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No ponto.

Eis um dos motivos pelos quais, voilà!, não, leitor, eu não torço contra o governo. Pode até parecer que sim, porque sou chato e implico muito. Sou chato porque sou e implico porque nunca acreditei na sinceridade das convicções liberais do Bolsonaro. Ele defende mal as teses boas, e nem adianta ficar bravo comigo: a biografia dele não me desmente. Ao contrário.

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De todo modo, reconheço (já reconheci noutros textos) que o Messias se cercou de bons apóstolos. Não sei se são doze, mas bastam. A equipe econômica. A infraestrutura. Alguns dos militares. Bolsonaro lui-même é um apêndice supurado no próprio governo, um penduricalho diversionista, uma oposição à sua situação. Sem ele, até ele estaria melhor.

Por isso que, das medidas urgentes, concordo com o Pedro Menezes: a reforma da Previdência é a Providência até para quem não gosta do governo. É boa para o Bolsonaro e para o inimigo do Bolsonaro. Gostando ou não, torço, rezo e faço votos para que essa graça seja alcançada. Além dela, se não for pedir muito, alguma mexida na legislação tributária; se Papai Noel existir, reforma política e saneamento básico.

Mas, para resumir, sem a reforma da Previdência não teremos nem mesmo um país viável sobre o qual debater. Num país falido a divergência é falida. Num país pobre a discussão é luxo – Venezuela está aí como prova. Para discordar do governo a gente precisa comer, vestir, morar. A pobreza extrema limita as opções e o homem se vê reduzido ao papel de caçador-coletor. Ou caçador-eleitor.

Portanto, que o presidente não atrapalhe tanto a si mesmo e faça o que for possível para que a reforma (mais de uma?) seja aprovada. Nem por isso vou gostar dele, porque sua visão política é neolítica e seus acertos são circunstanciais. “Paulo”, “Guedes” e “liberalismo” são palavrinhas que ele mal sabe pronunciar; aprendeu anteontem e agora vive repetindo. Mas, confesso, eu lhe serei grato e elogiarei o que porventura merecer elogio. Nada pessoal: nem as críticas, muito menos os elogios. Até para continuar a criticá-lo depois.