Que encantador anacronismo é o Miss Universo.
Temo, no entanto, que esteja com os dias contados. A depender do que hoje se espera de competições como essa, beleza é o que menos importa. Mais: beleza é quase uma inconveniência ética. As bonitas que me desculpem, mas discurso é fundamental.
Alto lá, antes que protestem, nem de longe me ocorre desmerecer a vitória de Zozibini Tunzi, da África do sul. Ela de fato é bonita e merecia ganhar o prêmio. Por isso e não mais ou menos do que isso: beleza.
O que me chama a atenção é a própria ideia de ainda existirem e resistirem os concursos de beleza, nesses tempos em que não se sabe ao certo se é correto reconhecer e apreciar a beleza humana ou, principalmente, se é correto reconhecer e apreciar qualquer vaga ideia de padrão de beleza.
Eis a palavrinha que gera discórdia: padrão.
Os padrões variam conforme época, cultura e geografia, mas não são infinitos. É chato dizer, mas existem pessoas, bichos e coisas feias. E, sob as linhas gerais, são muitos os rostos e corpos mais assim ou mais assado que agradam à vista. Existe espaço para a apreciação subjetiva. Contudo, padrões representam um dado suficientemente objetivo desse fenômeno intrigante que é a beleza. Admitir isso não é errado nem ofensivo.
A beleza, por oblíqua que seja sua definição, é identificável. Mais do que listar os critérios e parâmetros do belo, fácil é apontar com o dedo os exemplos. Ninguém em sã consciência e com os dois olhos na cara dirá que eu sou mais bonito do que, vejamos, Henry Cavill. Posso justificar ao Criador minha passagem sobre a terra por causa de outras virtudes, meu feijão carioquinha é saboroso e de textura inigualável, estão convidados qualquer dia, mas não me justifico por essa qualidade que me falta e que sobra ao Superman: ele é bonito, com a cueca para fora da calça e tudo; eu não sou, mesmo quando vestido a caráter.
Durante a transmissão do concurso, algures e alhures bradavam os progressistas, cheios de indignação pré-fabricada, que já passa da hora de acabar com essa desumana disputa. Não tem mais graça nenhuma distinguir gente por beleza. A beleza é subjetiva e está nos olhos de quem vê. A indústria faz uso do apelo à beleza para impor às mulheres isto ou aquilo. Acabem com essa competição e promovam logo um torneio de debates ou de spelling bee.
Pois não é que fomos surpreendidos novamente? Bastou o resultado para que os protestos silenciassem ou se ajustassem discretamente à efeméride. Venceu a mulher africana e negra, inapelavelmente negra.
Lágrimas de correção política foram derramadas de norte a sul do multiculturalismo.
Aqui do meu posto avançado de observação, pondero: enquanto muitos comemoram a coroação da Miss por ser negra, africana, periférica, simbólica, representativa, elegível, eu comemoro pelo motivo errado, que é o único motivo que realmente importa para o caso: Zozibini Tunzi é bonita, embora não escreva como Simone de Beauvoir.
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