Terça-feira de Carnaval, o homem de bem se preparando para a Quaresma, tudo mais ou menos nos conformes até para os disformes padrões nacionais e, de repente, o excelentíssimo senhor presidente da república federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, resolve divulgar em sua página – registre-se: na página do cargo que ocupa – a idílica cena de dois homens, em meio à folia paulistana, brincando de “golden shower”.
Isso a Globo não mostra.
Para quem nasceu anteontem e porventura não saiba, “chuva dourada” é o fetiche em que o amiguinho faz pipi no amiguinho, ou a amiguinha na amiguinha, ou qualquer um em qualquer outro, e nisso consiste o prazer da coisa toda. Há também a versão “brown shower”, que consiste em… deixa pra lá. Não tenho a desenvoltura presidencial para divulgar essas obscenidades. Sou escritor de família.
É claro que a tropa de choque arrumou jeito de defender o indefensável. Bolsonaro é um homem do povo, simples, curto, grosso. Está denunciando o pecado, condenando a imoralidade, mostrando a vida como ela é.
O risco é estarmos vendo o governo exatamente como ele é.
Já faz tempo deu pra perceber que duas palavrinhas não constam no messiânico dicionário: decoro e prioridade. (Pensando bem, faltam mais palavrinhas.) Teremos de contar com a máquina burocrática funcionando ao redor do presidente – apesar do presidente – para que o país não vá para o beleléu de vez.
Que tem vocação para ir, tem.
Não bastassem as atenções republicanas voltadas à promiscuidade carnavalesca, há problemas mais sérios que se avizinham. Ernesto Araújo demitiu o diplomata e escritor Paulo Roberto de Almeida em virtude de textos críticos aos rumos da política externa brasileira que este publicara em seu blog.
O chanceler, com aquele jeitão de Menino do Acre dele, viu, não gostou, emburrou e demitiu o competente – e liberal – diplomata. Isso é uma das muitas demonstrações de que o governo, ao contrário do que dizem os críticos, não gosta de pensamento único. Gosta é de pensamento nenhum.
A propósito da demissão de Ilona Szabó, o ponderado vice-presidente Hamilton Mourão comentou que, com esse tipo de atitude, “perde o Brasil. Perde o Brasil todas as vezes em que você não pode sentar numa mesa com gente que diverge de você. O Brasil perde. Não é a figura A, B ou C. Perde o conjunto do nosso país e nós temos que mudar isso aí”.
Mourão é comunista.
Enfim, como diria o presidente, não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. Se ele expôs a escatológica cena do carnaval, eu exponho as escalafobéticas cenas de um presidente que não se ajusta à nobreza do título.
Comentem e tirem suas conclusões.
A minha conclusão é a seguinte: torço para que esse governo dê certo, porque vivo no Brasil e estamos todos no mesmo transatlântico desgovernado. Mas que essa gente não merece dar certo, ah!, não merece não.
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