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Carnaval, política, atropelamento e fuga

Reprodução YouTube (Foto: )

Agora que o Carnaval de mentira já passou (o Carnaval de verdade continua; em Outubro tem outro desfile), pretendo fazer aqui duas ou três considerações irrelevantes. Eu, se fosse o leitor, iria ler o blog do Francisco Razzo ou do Rodrigo Constantino.

Um primo do meu primo confidenciou-me que certa Escola de Samba fez críticas mordazes ao presidente, à política, às instituições, ao golpe, ao Papa. A mesma Agremiação que, a propósito, matou atropelada uma pessoa e feriu outras vinte, no ano passado; deveria ter caído para a Série B da folia mas ficou na base da canetada, mais ou menos como o Fluminense costuma fazer de vez em quando.

Naturalmente, as críticas da Escola provocaram críticas à Escola: “Que moral tem essa Escola – que moral teria qualquer Escola – para criticar qualquer coisa, dada a origem nem sempre (quase nunca) virtuosa do financiamento?” “Criticar Michel Temer é fácil, é jogar pra torcida; quero ver criticar o Lula.”

Pois bem: meus aplausos à Escola. Que critique, que reclame, que sambe na cara do governo. Governos servem para isso: ser criticados. Até segunda ordem, levar demasiado a sério um governo é sinal de que os governados não se levam demasiado a sério. No entanto, essa crítica política, sambódromo nu em pelo, legitima toda e qualquer crítica que porventura vier a ser feita em futuros Carnavais.

Não se pode – e isso vale para a direita, para a esquerda, para o papai, para a mamãe – escolher a quem criticar ou, mais precisamente, escolher quem merece ou não ser criticado. Críticas ao governo Temer são bem-vindas? São bem-vindas. Espero que a recíproca seja sempre verdadeira.

Jack Vasconcelos e Escola respectiva podem criticar o governo de Michel Temer. Só não podem acreditar muito a sério que são mais decentes do que ele. Há mais vampiros nessa escuridão.

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Mas o Carnaval não é só “atropelamento e fuga”, como cantaria o saudoso Skowa e sua Máfia. Existem mais problemas; aliás: a “problematização”, palavrinha hedionda que veio pra ficar. Encasquetaram com os seios da Bruna Marquezine. Ela tentou fazer homenagem ao namorado Neymar e terminou homenageando Isaac Newton e suas descobertas gravitacionais.

De minha parte, nada contra a textura, o tamanho, o design dos seios da Bruna Marquezine. As preferências são tantas e os padrões de beleza foram inventados por mulheres e por gays. Sinto muito, mas é isso: homens – heterossexuais; mentalmente saudáveis – apreciam a beleza feminina com muito mais magnanimidade do que se pensa.

Dito isso, há quem veja nas “críticas” e “avaliações” às mamas de Marquezine uma prova inexorável da maldade humana, da objetificação da mulher, da matematização da beleza. Tais mamas nem deveriam ser assunto, mas há senões.

Bruna Marquezine não é exatamente atriz das mais talentosas. Ela, até hoje, muito mais vendeu – e viveu – de sua imagem e de suas idas e vindas amorosas que qualquer outra coisa. “Nos dias de hoje”, como dizem os chatos, o artista de tevê vende, aluga, negocia sua imagem em festas, casamentos, entrevistas, Carnaval. Ela se vestiu como quis, mostrou-se porque quis, exibiu-se para quem a quisesse ver e fotografar.

O julgamento estético existe, muitas vezes é cruel, mas é esse mesmo julgamento que faz com que Marquezine seja notada, admirada, desejada e, para nosso tempo, famosa. Meu corpo, por exemplo, não é coisa que se veja impunemente. Minha cara não é convidativa. Por isso me cubro, me escondo das gentes, e só tem coragem de me ver como vim ao mundo minha abnegada mulher, que calhou de me amar.

Por isso, escrevo; porque não sou Bruna Marquezine e nada tenho a mostrar. Ela está na chuva e quem está na chuva, como diria o presidente corintiano Vicente Matheus, é pra se queimar.

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Beija-Flor, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, com discurso também muito crítico e severo contra a corrupção. Seu patrono e presidente de honra, Anísio Abrahão, condenado a 48 anos de prisão, por formação de quadrilha e corrupção ativa. O problema do Brasil não é político, nem jurídico, nem mesmo moral; é clínico. Internem o Brasil antes que ele corte os pulsos.

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