Todos sabem que Jair Bolsonaro tem em seu governo pelo menos duas frentes, dois destacamentos, duas abnegadas tropas: a chamada ala ideológica, que se dedica a dar sustentação narrativa às decisões presidenciais, e a menos reconhecida – mas não menos importante – ala circense, que se esmera em desviar a atenção da narrativa que sustenta as decisões presidenciais.
Noutras e mais diretas palavras: enquanto o presidente e seus filhos omitem, cometem ou dizem absurdos, os ministros arrumam qualquer absurdo muito maior para ser omitido, cometido ou dito, com o fim de encobrir os absurdos primeiros e oficiais. Não falha nunca.
Abraham Weintraub é o padrão-ouro do diversionismo, o exemplo a ser seguido, mas outras figuras têm se destacado na honra ao demérito: Ricardo Salles, dedicado como poucos à destruição do meio-ambiente e adjacências; Damares Alves, preocupada com os direitos humanos à sua maneira nem sempre humana; Ernesto Araújo, perdido nalgum rincão do espaço-tempo entre a invasão da Baía dos Porcos e a queda do Muro de Berlim; Paulo Guedes, o visionário que confundiu o Brasil com a ilha de Robinson Crusoé.
O prêmio de funcionário da semana vai para uma espécie de ministra sem ministério, uma secretária sem secretaria, uma personagem à procura de um autor: Regina Duarte, namoradinha do governo, interpretou a si mesma numa (tentativa de) entrevista à CNN Brasil. Nunca vira desempenho tão assombroso na longeva carreira da atriz. Porque foi, sim, de assombrar. O esquete, em breve à disposição nos melhores canais de streaming, é mais uma tentativa de varrer para debaixo do tapete moral algumas outras cenas espantosas.
Como, por exemplo, o súbito esquecimento do versículo 32, capitulo 8, do Evangelho de João, que ensina sobre o poder libertador da verdade (onde está o exame?); ou a intimidadora marcha do Executivo sobre o Judiciário, sob as bençãos de generais e empresários; também os acordos com os infeciosos políticos do Centrão; ou ainda a declaração de que haveria (desmentiu a própria mentira) churrascada para 30 pessoas neste final de semana, enquanto outras 10 mil (até agora) foram devidamente enterradas porque, como argumentou Regina Duarte a propósito da ditadura e da pandemia, “se você falar vida, do outro lado tem morte”.
Pensando bem, e daí?
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