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Ciro Gomes está emburrado.

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Depois de fazer a corte ao PT, de falar coisas ora sujas, ora românticas ao pé do ouvido, levou um fora daqueles. “Não sei o que fiz ao PT para me tratarem assim.” O Partido dos Trabalhadores é moça de família, não sai com qualquer um. Esse é o problema, Ciro. Dizem por aí que você é bruto demais.

Mas o que é problema para o ensandecido candidato, pode ser solução para nós outros. O xadrez eleitoral brasileiro é tão esquisito, mas tão esquisito, que teremos de agradecer a Lula o fato de não termos Ciro Gomes na presidência. As articulações do ex-presidente e atual condenado desidrataram a campanha do coroné, que está prestes a morrer por asfixia.

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Lula, naturalmente, atuará como candidato até o último minuto da prorrogação. Sua intenção é clara: deixar para a undécima hora o momento de fazer a mágica da transferência de votos. Se ele fez isso com a inacreditável Dilma, acredita que fará com o não menos inverossímil Haddad. Desta vez, porém, o truque há de falhar.

Amém?

A outra intenção de Lula, talvez menos clara para muitos de seus entusiasmados defensores, é a seguinte: ele, e só ele, encarna a esquerda no Brasil. Desde os já longínquos dias de Mensalão, quando o PT começou a se mutilar para salvar Lula – na esperança de, em seguida, ser salvo por ele –, o que se vê na atuação do paizinho é que pouco está se lixando para o futuro da esquerda. O país, então, é um desimportante detalhe.

Ou ele, ou nada.

Do jeito que a banda toca, será nada. Porque no afã de se perpetuar como uma variação chavista no Brasil, Lula se esqueceu de que não é eterno. Envelheceu, perdeu muito de seu, aspas, charme, o mundo se cansou de protestar contra sua prisão e foi cuidar da vida, e não há ninguém que possa reivindicar a coroa.

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Manuela d’Ávila, com sua retórica de representante de sala exaltadinha? Não.

Guilherme Boulos, com sua… sua o quê? Menos ainda.

E agora nem Ciro Gomes, que talvez fosse o único a herdar o capital político petista.

Ao que parece, com a popularização cada vez maior de ideias liberais e conservadoras entre o eleitor comum, com a ascensão de Bolsonaro (de quem não gosto, mas desgosto menos que Ciro) e com o movimento suicida de Lula, é bem possível que a esquerda mais radical volte a viver anos de ostracismo.

Amém?

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Morreu Hélio Bicudo, aos 96. Defensor dos direitos humanos (e não, direitos humanos não servem apenas para proteger os manos. Sobral Pinto que o diga. Superem isso.), condenou integrantes do Esquadrão da Morte, nos anos 70. Filiou-se ao PT em 86, participou das campanhas pela redemocratização e, ainda em 2005, abandonou a sigla e o apoio a Lula. Foi autor, com Janaína Paschoal, do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, e desde então lutou para que o Esquadrão da Morte política fosse punido. Detestado por radicais à direita (ajudou a fundar o PT!) e à esquerda (ajudou a afundar o PT!), foi ter com o Criador em bons termos.

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Muito a propósito, vem a calhar a nova edição do livro O Homem Mais Lúcido Do Brasil – As Melhores Frases De Roberto Campos, organizado por Aristóteles Drummond e com depoimentos de Ernane Galvêas, Francisco Müssnich, Ives Gandra Martins, J. O. de Meira Penna, João Amoêdo, Paulo Uebel, Ricardo Mellão, Ricardo Salles e do colunista da Gazeta do Povo, Rodrigo Constantino. Trata-se de uma seleta de aforismos daquele que foi liberal antes de muita gente ter nascido, num ambiente pouco afeito a ideias econômicas liberais. Mas não só isso: Roberto Campos foi também um grande escritor e pensador da cultura. Sua visão pouco romântica do país e do mundo fez dele um verdadeiro desafeto de quem precisava (e ainda precisa) acreditar em messianismos de esquerda ou de direita. Ceticismo e disposição para o debate que fazem falta. Lançamento da Livraria Resistência Cultural Editora, do editor José Lorêdo Filho.