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Muhammad Ali e Joe Frazier. Madison Square Garden, 1971.
Muhammad Ali e Joe Frazier. Madison Square Garden, 1971.| Foto:

Acusam-me, alguns leitores, de praticar um “anti-bolsonarismo velado” e, por isso, “dos mais perigosos”. Por um lado, estão certos: critiquem à vontade, faz parte do jogo. É como torcedor que pagou ingresso e tem todo direito de vaiar. Por outro lado, estão errados: pratico um anti-bolsonarismo explícito mesmo, nunca velado. Onde estiver o bolsonarismo, não estarei eu. Pratiquei o mesmo esporte com o lulismo: ele de um lado, eu do lado oposto.

Quem chega agora à minha página reclama que não critico a esquerda o suficiente. Critiquei à exaustão. Os textos estão aí, boiando no oceano de virtualidades, basta procurar. Associem meu nome ao de Lula, ao de Dilma ou à esquerda e confiram o resultado.

Ocorre que a cúpula do PT começou a desabar no Mensalão. José Dirceu, Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoíno, Luiz Gushiken, Antonio Palocci. Lembram-se deles? Pois é. Lula deixou de ser presidente há quase dez anos – e está preso. Quem o prendeu é ministro da Justiça. Dilma sofreu impeachment e perdeu o Senado. Antes de Bolsonaro tivemos dois anos e meio de Michel Temer. Bolsonaro venceu. Olavo de Carvalho dá as cartas e o tom. Joice Hasselmann é líder do governo.

Querem mais o que – o Juízo Final?

O petismo foi absorvido pelo lulismo num clamoroso erro de estratégia, e o lulismo terminou em cadeia. Não há, nos quadros petistas, ninguém vagamente capaz de vencer as próximas eleições. Gleisi Hoffman? Nem de condomínio. Fernando Haddad? Nem karaokê da Vila Madalena. À esquerda, Manuela é café-com-leite e Ciro Gomes comete haraquiri político todo mês.

Sob tais condições, criticar somente o PT – ou, sei lá, o coitado do Marcelo Freixo – e poupar o atual governo é um jeito esperto de parecer crítico sem a verdadeira coragem da crítica, coragem que consiste em enfrentar as dificuldades reais, não as imaginárias; em trocar socos com o adversário em pé, não com aquele que está nas cordas. Fazer de conta que o petismo é uma ameaça iminente é fazer embaixadinhas pra torcida e, cheio de amor improvisado, beijar o escudo do décimo primeiro time da carreira.

Minha crítica ao bolsonarismo – repito: explícita, pornográfica, obscena, sem vergonha – tem dois motivos. Critico o que existe, está vivo e faz crescer; e critico o elã, a ideologia e o fanatismo que se avolumam em torno da figura do presidente. Quando rejeitei o petismo, rejeitei não só o PT, mas o ismo que vinha junto. Quando rejeito o bolsonarismo, rejeito mais o ismo que o próprio Bolsonaro. Bolsonaro sem bolsonarismo não seria tão ruim ou perigoso. Esse é o problema: um não sabe viver sem o outro.

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