Nietzsche filosofava com o martelo; Marcia Tiburi filosofa com a esquisitice.
Não são suas posições ideológicas e políticas que incomodam; existe gente muito pior do que ela por aí, fazendo arruaça de verdade no mundo. Tenho um vizinho que não separa o lixo; ele é mais perigoso que a Márcia Tiburi. O que incomoda é sua capacidade insuperável de diluir tudo numa papa que não alimenta o mais mimado dos bebês, desses que picham muros na Vila Madalena.
Há pouco tempo, entre uma enormidade e outra, ela teve a coragem de dizer que, de tanto estudar, já não conseguia mais ouvir música. E por que, Marcia Tiburi, terá caído uma Enciclopédia Barsa na sua orelha? Não: porque os estudos ensinaram para ela que o gosto musical não é puro; é imposto pelo mercado. “De tanto analisar tudo isso, não escuto música nenhuma.” Na sétima série, uma declaração assim receberia pedagógica vaia: “uuuuuuuuuuuuuh!”
Eu queria saber se o mercado determina também o gosto de quem lê os livros da Marcia Tiburi. Decerto não são vendidos no mercado, não são oferecidos no mercado, não recebem publicidade no mercado. São pulp philosophy. Filosofia de cordel. De tanto analisar isso, recuso-me a ler seus livros; aprendi direitinho.
A pensadora que escreveu o “kierkegaardiano” Como conversar com um fascista deu uma aula de como não conversar com ninguém, quiçá um taxista. O fascista em questão atende pelo nome de Kim Kataguiri, pesa 45 quilos e, como é sabido, lidera o Movimento Brasil Livre.
Surpreendida para um debate com o militante, na Rádio Guaíba, encheu-se de coragem e disposição, sapateou como um Fred Astaire ideológico e foi embora cuidar dos gatos. Antes de sair, toda socrática, filosofou:
(Reparem no ato falho teológico-patriarcal, rapidamente corrigido. Até na hora do esconjuro ela é feminista. Mas para achar que Kim Kataguiri é perigoso só mesmo confundindo-o com vilão de mangá.)
Marcia Tiburi tem o direito de não querer conversar com o Kim. No entanto, a porta-bandeira do diálogo democrático não se dispõe a dialogar a sério porque não é disso que se trata. A falta de presença de espírito entrega intenções mais profundas. Diálogo, para Tiburi, é um nome que se dá para assembleia, passeata, partido, comitê, seita, coletivo. Tudo que faz eco, tudo que é espelho. Ou isso, ou ela se esqueceu de suas próprias lições dialéticas (grifos meus):
Não se pode negar: ela nos deu uma aula prática de fascismo. De acordo com uma de suas definições, “o fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes etc), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber”.
Como não dá para conversar a sério com um fascista, chamamos de fascista quem quer que não se enquadre direito na nossa ideologia e, voilà, não precisamos conversar com ninguém. Marcia Tiburi entende tanto de fascismo que, se preciso for, vira fascista ela própria um momentinho, muito pedagoga, só para educar a audiência. Negou ao seu debatedor as diferenças e as qualidades; espantou-se com outra visão de mundo; estarreceu-se com o ser humano de olhos puxados; esqueceu nalgum canto o espírito de utopia.
Ela pode garantir que tem uma visão adorniana, wittigensteiniana, foucaultiana, feminista, kierkgaardiana. Respeito filosoficamente. Ela pode invocar o amor das deusas. Acredito piamente. Porém, assumida sua definição de fascismo, resta a dúvida: ou ela é fascista e seu livro é uma espécie de autobiografia, ou ela não é fascista e seu livro é uma espécie de porcaria.
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