A seleção italiana, quatro vezes campeã mundial, está fora da Copa do Mundo de 2018. Nos jornais do país as manchetes vão do lamento ao urro: a desclassificação é pouco menos – para alguns: pouco mais – que o próprio apocalipse.
Mas as favas já estavam contadas: pretas de um lado, brancas de outro. Depois de um título imerecido em 2006, título que deveria ter ficado com os franceses do finíssimo Zidane, o futebol italiano naufragou lentamente, numa decadência que envolve fraudes, corrupção, atraso, perda de prestígio, comodismo tático, preguiça técnica.
Em miúdos: a Itália é o Brasil antes do 7 a 1. (De certo modo, talvez seja o Brasil depois do 7 a 1. Algo me diz que a competência de Tite não corresponde à competência de todo o resto , e que o momentâneo sucesso canarinho é, como sempre, mais improviso que método; mas isso são outras histórias.) Que os italianos nunca foram de craques abundantes nem mesmo se discute. No entanto, havia no escrete azul uma inteligência tática, uma espécie de fascismo futebolístico, que compensava as limitações.
Enfrentar a Itália em Copas do mundo era travar guerras quase sempre perdidas, no tempo em que guerras eram travadas no corpo a corpo, em que a estratégia de generais valia mais do que a tecnologia avançadíssima dos drones. Os italianos, que nunca foram fartos em mágica, agora são ainda menos pródigos em munição.
Alemães têm projeto de renovação muito bem feito, já há alguns anos. O resultado começou a aparecer no simbólico e inesquecível 7 a 1 e o consequente título mundial de 2014. Os ingleses, donos da liga mais atraente da Europa, compreenderam que é preciso apostar em talento e em organização de base, ou o futebol, invenção bretã, vai ser coisa para inglês nenhum ver.
A Itália parou no tempo, nalgum ponto nostálgico dos anos 90, quando o calcio atraía gênios e mafiosos do mundo todo. Gênios não há; restaram os mafiosos. (O renascimento da Juventus de Turim e a inventividade do Napoli, do excêntrico e inteligente Maurizio Sarri, são exceções que dão alento, porém confirmam a regra.) A declaração de Chiellini, zagueiro brioso, dá a medida do equívoco:
Para o defensor, muito brasileiramente, o inferno são os outros. (Sartre era brasileiro.) A culpa não é da minguada imaginação esportiva na Velha Bota. A culpa é de Guardiola, catalão, por ter reinventado o jogo e proposto soluções que exigiram resposta. Muitos responderam, e o futebol melhorou. A Itália se recusou a responder – não quis nem mesmo saber do que se tratava – e ficou para trás. Espero que não definitivamente.
Uma pena para o fantástico arqueiro Gianluigi Buffon, de cinco mundiais, de estirpe nobilíssima: estirpe de Rinat Dasayev, de Dino Zoff, de Lev Yashin. Seu lamento é o lamento de todo moleque que um dia sonhou jogar em Copa do Mundo. Ele jogou cinco, queria jogar mais. Ele merecia jogar sempre, como se tivesse uma vaga só para ele entre os melhores do mundo, a cada quatro anos, a cada quatro séculos, a cada quatro eternidades.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas