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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

Fatos nem tão diversos assim

Marco Antônio lamenta a morte de seu filho, Hugo, no RJ (Foto Reprodução) (Foto: )

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Entendimento pacificado

O ministro Luiz Fux afastou qualquer pretensão de se entender (mais precisamente: de se desentender) as Forças Armadas como poder moderador da República. Que isso seja discutido em 2020 revela muito sobre a qualidade da nossa democracia desde 1988. Mas, já que é preciso dizer o óbvio, digamos o óbvio: o artigo 142 continua tendo o sentido original que sempre teve – e que não é o sentido que lhe pretende atribuir Jair Bolsonaro.

Desentendimento pacificado

O General Ramos, um dos tantos militares que infestam, retifico, integram o governo civil mais militar da história nacional, afirmou que é “ultrajante e ofensivo” falar em golpe militar. Onde já se viu imaginar que as Forças Armadas dariam golpe militar no Brasil, não é mesmo? Ponderou ainda que o presidente “nunca pregou golpe militar”, exceto, pondero eu, nos momentos em que pregou golpe militar. Por fim, como um Galileu que sussurrasse “eppur si muove”, finalizou: “Mas não estiquem a corda”.

É disso que o povo gosta

Sejamos francos a esse respeito: não é bem que os tais 57 milhões de eleitores não acreditam que Bolsonaro e seus generais queiram acabar com a democracia. É pior: muitos, milhares, milhões desses eleitores também querem. A ideia de democracia, no Brasil, é votar num caudilho e ignorar todo o resto. No fundo, é disso que o povo gosta.

Pavlov explica

Em sua live semanal, o mitológico senhor presidente incentivou que seus apoiadores invadissem hospitais para comprovar que não há lotação, que sobram leitos e, por consequência, que a peste é só uma gripezinha. Resultado? Horas depois, alguns apoiadores invadiram o hospital municipal Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, para provar os mesmos fatos. Coincidência.

Lombroso também explica

Na Praia de Copacabana, ativistas do movimento Rio de Paz fincaram cruzes na areia, em homenagem aos milhares de mortos em virtude da covid-19. Entre os que pacificamente se manifestavam, Marco Antônio, pai de Hugo, que morreu aos 25 anos de covid-19. Ora, chorar os mortos é sinal inequívoco de comunismo, todos sabemos. Um homem-de-bem que por ali transitava se apresentou para eloquentemente demonstrar que os canalhas também envelhecem: aos gritos de “fora, comunistas”, derrubou, uma a uma, as cruzes fincadas na areia. Restou a Marco Antônio a tarefa de carregar novamente as cruzes – e carregar a sua Cruz.

Risco calculado

João Dória sempre Júnior vinha tendo (ao menos ensaiava) uma postura razoável no combate à pandemia. Usou de suas prerrogativas e fechou o quanto pôde o Estado de São Paulo. Não que tenha sido radical, mas parecia compreender a gravidade da doença e a necessidade de medidas impopulares. Aqui e ali, a polícia do Estado abusou da força para conter o cidadão que insistia em ignorar a quarentena. Eis que, de repente, João Dória sempre Júnior se cansou da postura razoável, lembrou-se que nunca foi um político razoável, fez contas de bom padeiro paulistano e decidiu abrir novamente o Estado, no momento em que a curva de contágio se acentua e o número de mortos cresce. Em suma, assumiu um risco calculado: calculado para dar errado.

“Estes são os meus princípios...

Em campanha, Jair Bolsonaro prometeu se afastar do Centrão. Prometeu extinguir a tv estatal e dar vazão à fúria privatista de Paulo Guedes. Prometeu dar carta branca a Sérgio Moro no combate à corrupção. Prometeu reduzir os ministérios para no máximo 15. Prometeu, prometeu, prometeu.

...não gostou? Tenho outros”.

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