Os liberais pregam o Estado mínimo.
Jair Bolsonaro não é liberal. Ignora no todo e nos detalhes essa e quaisquer outras configurações políticas, ideológicas e econômicas. Até mesmo o comunismo, bicho-papão que o assombra com tanta insistência, lhe é estranho. Conhece de ouvir falar.
Por mais que seus assessores – formais e informais, remunerados ou voluntários – se esforcem, a inspiradora história de um deputado do baixo-clero, entusiasta da ditadura, sovado no corporativismo militar, subitamente convertido à liberdade econômica e aos limites da ação do Estado, é menos história e mais conto da Faria Lima. Acreditou quem quis. Muita gente quis.
Mas não se pode negar que o presidente tem feito esforços em não se esforçar de jeito nenhum. Na falta de leituras sobre a teoria do Estado mínimo, ele age – na prática – o mínimo que pode, por preguiça, incompetência e desinteresse. Sua agenda, para quem a consulta, não é das mais movimentadas.
E, como se vê, o governo é o homem.
O país precisa de reformas tributária, administrativa e de uma agenda séria de privatizações? Precisa, mas nós é que não precisamos nos apressar, porque reforma, já viu, não se sabe quando acaba depois que começa.
A educação é problema dos mais urgentes? É, ninguém o nega, mas não é fácil acabar de vez com qualquer vestígio dela. Estamos tentando: de Velez Rodriguez a Weintraub, de Decotelli à extinção, o fracasso leva tempo.
A pandemia tem matado milhares de brasileiros por dia – até agora, mais de 60 mil – e há que se bolar um plano inteligente para o controle sanitário? Ora, não sejamos tão rigorosos, é só deixar como está pra ver como é que fica.
Para não dizerem que só tenho críticas, querem um exemplo de medida correta? Vetar a obrigação de uso de máscaras em, aspas, domicílios como igrejas, templos, comércio e escolas; e, principalmente, desobrigar o Estado de oferecer máscaras aos mais pobres.
O raciocínio é de uma transparência cartesiana: menos máscaras, mais mortes; mais mortes, menos brasileiros; menos brasileiros, menos mortes; menos mortes, menos necessidade do uso de máscaras. Mais ou menos isso.
Eu disse que Bolsonaro não é liberal? Retifico: ele é uma espécie muito brasileira de liberal. Não se encontra assim na Europa ou nos EUA. Só aqui. Consiste no seguinte: ele não faz nada, rigorosamente nada. Sua agenda oficial é um latifúndio improdutivo prestes a ser ocupado pelo MST. Está sentado sobre o país, comendo jujubas ideológicas, rindo enquanto tudo incendeia.
É o máximo que sabe fazer. É o seu jeito muito próprio de fazer Estado mínimo.
Está conseguindo.
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Após críticas, Randolfe retira projeto para barrar avanço da direita no Senado em 2026
Novo decreto de armas de Lula terá poucas mudanças e frustra setor
Brasil cai em ranking global de competitividade no primeiro ano de Lula