
Roberto Mangabeira Unger não é bobo: professor de Harvard, teórico respeitado em filosofia do direito, principal nome dos critical legal studies, citado por intelectuais importantes. Ele definitivamente não é bobo. Bobos somos nós.
Ou assim ele acredita. A cada quatro anos, mal começada a disputa presidencial, Mangabeira Unger e seu sotaque alienígena aportam no Brasil para nos oferecer sua visão de mundo.
Conselheiro, amigo ou guru do sereníssimo Ciro Gomes, com ele tem uma relação frutífera como a de Marx e Engels, Quixote e Pança, Pink e Cérebro, e seu interesse pelo país trai, facilmente, suas verdadeiras intenções, que podem ser reduzidas a uma: o enlevo pela própria voz. Unger é de uma vaidade que chega a constranger.
Não há entrevista ou artigo não me deixe a impressão muito nítida de que o Brasil é uma espécie de laboratório de ideias, um garimpo de soluções mirabolantes, uma republiqueta maleável às ambições do pretenso rei-filósofo. Se nos EUA ele é uma figura confinada (ainda que relevante) ao mundo acadêmico, aqui ele quer o mundo tal e qual.
À Folha de S. Paulo, repete a mesma cantilena que já soou nova e interessante, vejamos, quatro eleições atrás, mas hoje fede a feijão longe da geladeira: precisamos de um “projeto de nação”, de uma “visão estrutural”, de “produtivismo inclusivo”, de “mudanças institucionais profundas”, de “energia cívica”, e outras verdades assim tão genéricas que eu poderia reproduzir tranquilamente sem checar a autoria: se dele, se minha, se do gerador de lero-lero.
De acordo com o mestre de Barack Obama, o teto dos gastos deve ser alterado, para que não se transforme numa “camisa de força” a punir os mais pobres. Em português e na prática: que o governo gaste por sua conta e risco, desde que tenha “visão estratégica”. A reforma trabalhista é atacada porque representa a erosão dos direitos e a precarização da classe trabalhadora.
Mas o melhor é o seguinte: ele convoca o PT ao “realismo político”, ou seja, aliar-se a Ciro Gomes num projeto de nação, de centro-esquerda, porque essa não é a melhor, mas a única opção.
Antes de mais: “realismo político” é o que vimos entre PT e empreiteiras, estatais e congressistas, base e oposição, enfim, todas as operações que decidiram a vida dos brasileiros nos últimos governos populares e democráticos. Realismo e crueza que fazem do Brasil inapropriado para menores de dezoito anos.
À parte isso, que o destemido pensador de Harvard faça de uma aliança do PT com o oligarca Ciro Gomes sinônimo de “realismo político” e “novidade”, é dessas coisas que me obrigam a desconfiar da seriedade do processo seletivo na prestigiosa universidade americana.
Roberto Mangabeira Unger, muito ao contrário do que pretende, deixa sempre a sensação de que nos considera a todos uns colonizados, uns índios impressionados com as traquitanas dos colonizadores, uns pagãos esperando por jesuítas.
Como um português que, a cada quatro anos, chegasse com sua caravela jurídica e seu discurso de “projeto” e “filosofia” às nossas praias institucionais, Unger quer fazer as vezes de novo Platão, mas não passa mesmo é de uma espécie de Vanderlei Luxemburgo do pensamento político.
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