Lula foi à cidade de Bagé acreditando que arrastaria multidões. As multidões educadamente o arrastaram para fora da cidade. Tomou vaia, reclamou, ficou sentido. Como se trata da alma mais generosa que já pisou essa terra, antecipou a concessão de desculpas: ele aceita, compreende, podem lhe pedir perdão que perdoa, filhos pródigos que somos, mahatma que ele é. Ele tem tanta fé em si mesmo que eu quase me pego a ter fé nele; mas passa. Lula precisa de um analista, qualquer analista. Nem que seja o de Bagé.
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Enquanto isso, no STF, o bolão continua animado: Lula será preso e depois solto? Não será preso? Será preso e ficará preso? Inventarão um tipo penal paraconsistente, feitinho só pra ele? O Lula de Schrödinger. Tudo depende do randômico juízo de cada um dos juízes da Suprema Corte. Aconteça o que acontecer (que Lula seja preso, de preferência), o país já perdeu. Pois Lula pautar o STF como tem pautado é sinal de que, de alguma maneira, ele ganhou, ele ganhará, mesmo perdendo. E a Corte, cheia de Vossas Excelências, cada vez menos suprema.
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Aliás, vossas excelências assistiram à rinha de galo ontem? Cenas lamentáveis. Uma Vossa Excelência chamando a outra Vossa Excelência de tudo quanto foi nome, e as demais Vossas Excelências com aquela expressão de que horas isso vai terminar porque já estou ficando com fome e há uma série nova na Netflix que dizem que é boa. Mas triste, triste mesmo foi reparar, no cantinho inferior direito do vídeo, o desespero apaixonado da moça que fazia a tradução do embate para libras. Parecia uma britadeira linguística, tamanho esforço. Que profissão, meu Deus! Vossa Excelência deveria ser ela e somente ela.