Está em curso uma certa campanha para que o nome de Lula seja considerado na disputa do prêmio Nobel da Paz. Gleisi Hoffmann (nunca decepciona) afirmou que a segunda condenação do ex-presidente e atual bi-condenado é retaliação à proposta. Ela se esqueceu de qualquer coisa relacionada a um certo sítio em Atibaia, mas isso é detalhe que não vem ao caso.
O que vem ao caso é que, consideradas todas as coisas, Lula bem que merece o prêmio Nobel da Paz. Sou o primeiro a cerrar fileiras com os petistas nessa campanha. Onde assino?
Se não por outro motivo, Lula merece o Nobel da Paz porque não mereceria prêmio nenhum em virtude de sua inteligência. Não que seja burro, não é, ninguém é bandido dessa envergadura sendo muito burro, mas também não se destaca por virtudes literárias, científicas ou artísticas. A única coisa que ele mais ou menos consegue fingir é ser bonzinho.
E o Nobel da Paz é o prêmio de consolação para quem não ganha os prêmios que de fato importam, que realmente perpetuam o nome do laureado na história: física, química, medicina, literatura, economia. Àqueles que não sabem contar, escrever ou pesquisar resta fazer umas algazarras, assinar uns manifestos, chorar umas lágrimas, abraçar umas crianças e pleitear o Nobel da Paz (e respectivo saldo bancário).
De vez em quando, nem disso precisam.
Barack Obama, por exemplo, ganhou o prêmio por ser Barack Obama. Explicação? Tenho palpites, mas prefiro evitar processos judiciais. Outro indivíduo que não precisou chorar, abraçar crianças, assinar manifestos: Yasser Arafat. Aliás, dizem, fez o contrário disso tudo. O mais do que controverso diplomata Henry Kissinger também ganhou o seu (leiam O julgamento de Kissinger, Christopher Hitchens, e julguem à vontade). A ONU levou um troféu. Al Gore foi condecorado por antecipar o fim do mundo, ainda que suas previsões tenham sido vagamente superestimadas. Etc.
Por outro lado, a Academia deixou de premiar quem merecia. Em literatura é uma triste festa, pois a lista de quem não ganhou tem nomes mais importantes que a lista dos vencedores. Tolstoi (velho), Fernando Pessoa (esquisitão), Virginia Wolf (suicida), James Joyce (irlandês), Marcel Proust (gay), Jorge Luis Borges (blasé), Agustina Bessa-Luis (portuguesa), Franz Kafka (misantropo), Nabokov (pedófilo), Philip Roth (pornógrafo), Guimarães Rosa (brasileiro) e grande elenco.
Outros, entre os contemplados, são ilegíveis: Dario who?
Lula, se vencer, terá merecido. Com desalentadora frequência, determinados prêmios e respectivos premiados realmente se merecem – no sentido menos lisonjeiro do mérito. Deem logo ao ex-presidente o Nobel, que ao menos lhe servirá no pagamento dos advogados. Eles sim: inestimáveis ficcionistas.
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