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Meia dúzia de perguntas para Felps MacFergus

FELPS MAcFERGUS (FELIPE MESTRINER) nasceu às margens do Ipiranga, em São Paulo. Cresceu no cool do interior do Paraná, estudou na Fundação Bradesco (onde tentaram transformá-lo em bancário, sem sucesso), tentou cursar Letras durante um ano e não aguentou a alienação esquerdista que infesta o ambiente acadêmico – não conseguindo concluir nada. Hoje, está de volta a São Paulo trabalhando como webdesigner e como voluntário em uma ONG (Soluções Urbanas), que ajuda famílias da periferia a reformarem suas casas. É cantor de roquenrrou das antigas, podendo ser facilmente encontrado cantando em algum boteco com copos americanos engordurados, desde que sejam frequentados por clientes de ótima índole e bom gosto musical, apesar dos Vittares…

 

1 O rock morreu ou quem morre são os seus coveiros?

Acredito que os coveiros estão morrendo de inveja a cada aniversário do Keith Richards.

 

2 Você é um roqueiro “de direita”? E o quanto a política influencia nas relações que você estabelece com o público, com os outros músicos?

Quanto mais à direita estivermos, menos interferência do estado e mais liberdade teremos. Por esse ângulo, acho que sou um roqueiro de direita, sim. A direita roqueira que não faz cara feia para o conservadorismo é a nova contracultura. Como diria um amigo meu: “Quer ser punk? Você acha que é punk? Vai lá comprar um pacote de fraldas toda semana pra você ver o que é ser punk!” Formar uma família hoje em dia é ser rebelde de verdade. Colocar a culpa de todos os problemas do mundo nas costas do capitalismo é muito fácil. O rock’n roll tem o DNA capetalista! Jamais me esqueço de que o comunismo tentou banir bandas de rock de muitas maneiras. Existe uma lista que foi distribuída na União Soviética acusando bandas como Black Sabbath, AC/DC, B-52, Talking Heads – e até artistas como Julio Iglesias – de serem apologistas da violência, neofascistas, anti-soviéticos e anti-comunistas… Isso, a meu ver, é maravilhoso! A esquerda brasileira demonizou as guitarras em determinado momento da história da MPB, promovendo até passeata contra as demoníacas e perigosíssimas guitarras elétricas. Somos atrasados, isso mostra que desde sempre pegamos coisas que já não funcionaram lá fora e pioramos pra tentar implantar aqui. Por essas e outras que o rock só passou a ser difundido na mídia com mais ênfase lá pro fim dos anos 80. Acho isso muito triste. Mas, graças a Deus, temos os avanços tecnológicos para nos ajudar. Em relação à política, gosto daquela frase do Angus Young: “Me perguntaram se já me envolvi com drogas. Acho que quem se envolve com drogas são os políticos e os esportistas.” To aqui pra dar tapa na cara de quem se faz de bom moço enquanto lambe botas de ditadores como Chavez, Fidel e Maduro.

 

3 As mudanças na indústria musical parecem ter esfacelado o cenário do rock. Há centenas de bandas para públicos “menores”, indie, alternativo etc. Como é sua visão de tudo isso?

Acho que hoje em dia é até mais fácil você gravar, divulgar e tentar viver disso. A inclusão digital acabou facilitando muito as coisas e é por isso que temos tantas bandas e coisas novas aparecendo. O que temos que fazer é garimpar. Acho um exagero dizer que o rock está na UTI. O que temos é um uma geração de crianças mimadas que não ouviram palavrões ou não levaram chineladas o suficiente para tomar vergonha na cara e lutar pelo que querem. É aquela velha história: tempos sombrios geram homens fortes, homens fortes criam tempos melhores, tempos melhores criam uma geração de bundas-moles. Antigamente a molecada saia no soco por causa de um disco de vinil. O que vemos hoje é um bando de adolescentes de trinta anos choramingando no Twitter porque alguém foi chamado de gordo, por exemplo.

 

4 Quais são suas influências musicais, ou os músicos e grupos que você ouve sempre?

Gosto muito das bandas dos anos 70, de toda aquela magia do que eu não vivi, como os festivais de Woodstock e da Ilha de Wight. Escuto muito The Who (tive a sorte de ver ao vivo ano passado, junto com The Cult), AC/DC, Free, Joni Mitchell, Zappa, Hendrix, Stones… Enfim, os clássicos. Mas domingo passado fui ao show do Alceu Valença, por exemplo. Chorei ouvindo “Anunciação”! Escuto o disco do Jorge Ben Jor, A Tábua de Esmeralda, quase que diariamente, escuto música indiana, música folclórica irlandesa também, e muita coisa de bluegrass e country antigo, sem contar os blues da vida.  Tenho mania de ouvir a mesma música repetidas (muitas) vezes. Os vizinhos adoram isso!

 

5 Da música à política cultural: o Estado deve se meter a financiar, ajudar, quebrar o galho de artistas?

O Estado tem é que acabar! Quanto menos Estado, mais agrado! Os artistas estão aí pra se virar. Às vezes tenho vontade de que voltem com a censura para ver se isso instiga o pessoal a fazer letras criativas pra driblar os censores, assim como Raulzito fazia.

 

6 Fale sobre sua trajetória na cena; seu grupo; suas pretensões – se é que há pretensões.

Bom, pra quem começou cantando Christian e Ralf seis e meia da manhã com os bebuns da padaria do avô, até que eu sou um bom roqueiro. Um dia descobri que meu irmão tinha um CD da Legião Urbana, e comecei a me interessar por rock. Costumam falar mal do Renato Russo, mas a banda dele me salvou a vida. Faz uns dez anos que comecei a me aventurar nos palcos e tenho certa experiência na cena underground paulistana.  Tive uma banda chamada “Os Jorjões” que acabou se desfazendo, quando precisei voltar ao Paraná por uns tempos, mas estou planejando voltar à ativa com ela até o meio do ano. Hoje vou ver um show do Made In Brazil, com meus amigos Oswaldo e Celso Vecchione, e minha única pretensão na vida é ser um dinossauro do rock como eles. Quero ser um velho massa! Dinheiro e fama se vão… Os pelinhos do braço arrepiados ao ouvir uma música de que se gosta é o que fica, é o que deixamos de herança verdadeira.

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