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JAMILSON J CASTRO mora em São Paulo e atua na assistência em Saúde Mental na rede pública e privada da cidade. É formado em Psiquiatria pela Santa Casa de São Paulo. Preceptor da Residência Médica da Santa Casa de São Paulo. Psicanalista.

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jamilsonjc@yahoo.com.br

 

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1 Freud ainda explica?

Freud sempre explicará. A teoria psicanalítica é atemporal. Evidentemente os conflitos mudaram e muito do que Freud escreveu tem relação com dilemas existenciais de uma época que já não vivemos. Mas isso não é a coisa toda. Aliás, isso não é a coisa em si! A questão é a existência do conflito inconsciente e esse faz parte da realidade humana, de sua natureza. Freud descreveu o desenvolvimento do psiquismo humano e os mecanismos que tornam possível nossa relação com o mundo. Somos seres inseridos em uma sociedade, uma civilização, que é o que permite nossa continuidade de certa forma. Precisamos dela. Porém, enquanto houver civilização, haverá mal estar. Enquanto houver mal estar, haverá psicanálise.

 

2 Depois de dez, quinze anos de análise, o paciente recebe alta: cura ou W.O?

Ressignificação. A possibilidade de se relacionar de forma mais saudável com nossas escolhas, a elucidação dos “porquês” de nossas angústias, abre as portas para que o indivíduo possa escrever sua história e assinar embaixo sem se envergonhar (tanto) disso.

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3 Você é psiquiatra e psicanalista: onde começa um e termina o outro?

Eu diria que a psicanálise não tem começo nem fim, porque ela fala da nossa forma de existir no mundo. A psiquiatria, sim. Nossos conflitos neuróticos, assim como nossa predisposição genética, podem gerar sintomas graves, que necessitam do uso de medicamentos para aliviar e tratar esses sintomas. Além disso, há transtornos de outra ordem, mais profundos, psicóticos, que exigem tratamento medicamentoso contínuo. O tempo de tratamento, assim como o tipo adequado é individualizado, requer a avaliação caso a caso, feita por profissional competente.

Já a psicanálise atua numa outra instância. Ela não  “trata” o sintoma na forma do medicamento, ela explica o sintoma e, a partir daí, permite uma outra relação com nossas próprias escolhas e ressignifica aquele sintoma. Ambas trazem alívio, cada uma seu modo, cada uma seu tempo.

 

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4 Há certo movimento antimanicomial defendido entre intelectuais. Internações são necessárias ou isso é coisa de maluco?

A internação que existe hoje é muito diferente da internação do passado. Não que já tenhamos conquistado todas as melhorias necessárias, mas já evoluímos muito. A reforma psiquiátrica e o advento de outros equipamentos (muito mais eficazes) de cuidado trouxeram dignidade e inserção social a essas pessoas. Internações podem ser necessárias como último recurso e apenas para proteger a integridade da pessoa que sofre e das pessoas ao seu redor. Há inúmeras formas de ajudar alguém que está em sofrimento mental antes da internação. Mas ainda não é possível evitar internações a todo custo, por mais que os mais radicais teimem em dizer o contrário.

 

5 A crítica que fazem à indústria farmacêutica procede ou esquerdista tem mesmo é de tomar comprimido de vergonha na cara?

Assunto complexo. A resposta é sim e não. Sim, porque a indústria farmacêutica faz parte do mesmo mundo capitalista do qual todos nós fazemos parte. Então, é óbvio que ela se paute nisso para exercer sua influência sobre tudo que ela abrange. Mas há muita especulação e muita teoria conspiratória, como também é bastante comum em certas alas da nossa sociedade; na esquerda, por exemplo.

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6 Jung é o Freud que tomou ácido demais e começou a ver coisas?

(Risos). Respeito muito a psicologia analítica de Jung. Há contribuições interessantes que podem conversar perfeitamente com a psicanálise de Freud. Eles trabalharam juntos e devemos muito a esse período de parceria. Obviamente as discordâncias teóricas trouxeram diferenças essenciais na clínica. Num determinado momento, Jung tomou um caminho diferente, distanciou-se do cerne da questão, porém manteve o trabalho do inconsciente como fio norteador da psicoterapia que propunha, o que já é bastante bom. Acredito que caiba mais ao paciente descobrir que linha lhe faz mais sentido do que ao terapeuta ditar qual deve ser sua escolha.