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JOEL PINHEIRO DA FONSECA é economista e filósofo. Escreve coluna semanal na Folha de S.Paulo e na Exame Hoje.

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1 A política está morta ou as notícias de seu passamento têm sido um pouco exageradas?

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A política está viva; e bem viva. A questão é que ela não está entregando aquilo que muitos esperariam dela: desde soluções para problemas práticos da vida em sociedade (saneamento, educação, etc.) até redenção da alma e felicidade profunda aqui neste mundo.

Muita gente sente que há algo de errado com o Estado brasileiro. No passado, apenas paravam de se preocupar com ele: cada um ia para suas próprias ocupações e interesses. Política? Nem pensar!

Desde 2013 as coisas estão mudando. Vejo cada vez mais gente querendo entrar na política, mudar a política, abolir a política, discutir política. Ela voltou ao centro das atenções. Mesmo porque faz três anos que a gente discute ininterruptamente se a pessoa que ocupa a cadeira presidencial vai ou não terminar seu mandato.

Mesmo aquilo que estava fora da política agora está sendo puxado para dentro: arte, humor, futebol, o Judiciário.

 

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2 O advento das redes sociais parece deslocar – e reorganizar –, aos poucos, a atenção dos políticos e dos coordenadores de campanhas; essa impressão faz sentido para você? Se sim, qual tende a ser a relação – e relevância – entre mídia tradicional e novas mídias, daqui por diante?

As pessoas estão nas redes sociais. Gastam seu tempo e sua atenção (que é limitada) nas redes. Os políticos precisam da atenção dos eleitores para cativá-los, e serem lembrados na bendita hora de digitar os números na urna. Portanto, têm que usar as redes sociais.

Não sou especialista em estratégia de campanha, então tenho só uma impressão geral. Não tenho a menor dúvida que as redes sociais terão um papel relevante em 2018. Ao mesmo tempo, não é tudo. A campanha na TV e na rua continuará essencial para eleger um candidato.

 

3 Como você vê o cenário para as eleições de 2018?

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Uma eleição polarizada, feia, em que os símbolos falarão mais alto do que as realidades concretas. Direita e esquerda, questões identitárias, marcação de posição ideológica. Isso, claro, nas classes ditas mais educadas, que gostam de discutir política. Esses estão à espera de candidatos puros – ética e ideologicamente, que não cedem em nada, que vêm de fora –, o tipo de perfil que, uma vez eleito, tem muita dificuldade em ser relevante em meio às articulações e negociações que invariavelmente constituem grande parte da vida política.

Ao mesmo tempo, esse grupo de pessoas é restrito. Para grande parte da população, vale a política brasileira como ela sempre foi: algum tipo de relação pessoal com um líder ou comunicador, interesse no que ele pode fazer pelo eleitorado dele.

 

4 Jair Bolsonaro lhe parece uma opção a se considerar seriamente, ou é melhor brincar de outra coisa?

É uma opção séria no sentido de que chega com chances em 2018. Vejo muita gente do meu meio social que pensa em votar nele, ou o tem como uma opção plausível.

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Do ponto de vista do que um bom chefe do Executivo deve ter, não é um candidato sério. É um candidato que joga com a demagogia mais baixa, que faz bravatas, que se vende como homem forte. Mas que, na prática, não tem o menor domínio de qualquer área relevante para o Brasil e carece da capacidade de pautar ou mesmo negociar em pé de igualdade com o Congresso, do qual fez parte – numa carreira apagada – por quase 30 anos.

Ele responde a dois anseios da população que têm sido negligenciados. O primeiro é a espera de uma resposta firme para a calamidade da insegurança no Brasil. Ele não tem uma resposta à altura, mas ao menos, simbolicamente com suas bravatas e promessas de matar bandido, responde à demanda.

A segunda é uma reação, especialmente entre jovens, dos excessos do politicamente correto, que está se transformando numa forma terrível de censura mental e histeria pública. Bolsonaro representa, para muitos jovens, uma resposta ao que parece ser a onipresença do politicamente correto. Claro que ele também leva seus seguidores a excessos igualmente perigosos.

O problema central é que, por trás das bravatas, não sobra muita coisa. É o símbolo que, ao invés de representa, substitui a realidade. Na realidade, Bolsonaro é um militar corporativista, com instintos econômicos nacionalistas, que se eleito deve ser facilmente engolido por um Congresso dividido e não-cooperativo. Nunca roubou? Provavelmente é verdade. Mas também nunca fez nada de relevante, e oportunidade não faltou; faltou capacidade.

Acredito que nomes mais sólidos na centro-direita conseguirão esvaziá-lo ao longo do ano.

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5  O que falta à esquerda ensinar à direita; e o que falta à direita ensinar à esquerda?

A esquerda pode aprender com a direita a não mais desprezar os valores da população brasileira em nome de cartilhas vindas direto do ultra-progressismo americano. É possível inclusive defender mais tolerância sem exigir que a população se converta à última moda de estudos de gênero e raça de Yale e Harvard.

E a direita pode aprender com a má experiência recente da esquerda: não importa sua ideologia, se você está nesse jogo apenas pelo poder, então você levará a sociedade para uma condição tirânica, mesmo totalitária. Claro que a esquerda passou longe disso. Mas pode ter certeza que, se as forças mais demagógicas da direita atual tivessem o mesmo poder, agiriam da mesma maneira. No final das contas, a ideologia dá a cor, mas não abole e nem purifica a dinâmica do poder. É preciso sempre combatê-la em alguma medida.

Mais importante do que direita e esquerda, penso na distinção de caráteres. Dois tipos de político que prejudicam o país: 1) o fisiológico perfeito: aquele incapaz de discutir qualquer proposta honestamente, pensando sempre e apenas no cálculo político e nos interesses pessoais seus e de seu partido. 2) o ideológico perfeito: aquele incapaz de negociar e de ceder, que encara a conciliação como uma coisa ruim, que bate o pé em cima de suas pautas e está no Congresso só para fazer gritaria e agradar seu eleitorado.

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O que queremos: alguém que consiga equilibrar algum interesse pessoal e partidário, alguma prioridade ideológica e que esteja disposto a negociar em cima dessa agenda. Se tivermos mais políticos assim, na direita e na esquerda, o Brasil estará melhor.

 

6 Dá bilhão?

Se o próximo governo for capaz de fazer ajuste fiscal, turbinar o investimento com capital privado, elencar prioridades para o gasto estatal (base da pirâmide, segurança e educação básica), fazer reforma tributária (impostos mais leves, mais simples e mais justos) e abrir nossa economia, não tenho dúvida que isso vai dar bilhão, trilhão e hexa.