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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

Militância em Brasília: há vagas

Foto Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo (Foto: )

Entre os eleitores que não tinham a vocação para militância nem o gosto do fanatismo, o voto em Jair Bolsonaro consistia na esperança de que os nomes técnicos do governo se sobressaíssem e impusessem suas pautas. Com alguma sorte, falaríamos mais dos milagres de Paulo Guedes (zerar o déficit em um ano, vender um trilhão em estatais...) do que das sandices dos outros nomes que de técnica só conhecem a de manipulação de massas.

Passados quase nove meses de gestação, a verdade é que a agenda econômica de Guedes e as reformas estruturais tocadas com zelo pelo ótimo Tarcísio Gomes de Freitas são mais lentas, complicadas e cheias de desvios do que gostaríamos. Um país não é uma palestra, um think tank, uma ilha de Crusoé que se pudesse levantar do alicerce.

Isso sempre foi assim, aliás, com os melhores e os piores governos. Há problemas reais e urgentes, há todo um mecanismo político – em grande parte legítimo – que tem de ser compreendido e, como bem lembrou o porta-voz oficioso da República, “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer”.

Na falta, portanto, de grandes e aceleradas mudanças, porque a chatice da democracia atrapalha mesmo, a agenda ideológica começa a tomar a dianteira, e as soluções técnicas aos poucos dão lugar às prestidigitações da política, ou no apelo a uma espécie de “revolução reacionária”, tema de outro texto meu nesta Gazeta.

Olavo de Carvalho, fiador intelectual de Bolsonaro e família, convoca as hostes e é prontamente obedecido. Já há cadastro de militantes dispostos a derrubar a Bastilha. O filósofo que tanto e por tantos anos criticou a hegemonia gramsciana e o próprio conceito de revolução, agora quer uma “revolução permanente” para brincar de Trotsky. Quem diria. O mundo dá voltas e prova que a terra ideológica não é plana.

Em tese, os descrentes da política e crentes na economia ainda poderiam defender sua aposta: “O que importa é a economia. Quando melhorar, os ideólogos serão irrelevantes”. O problema é que não é bem assim, nunca foi bem assim. Não existe “quando”, mas “se”. Um exemplo está aqui ao lado: Maurício Macri entrou como liberal e pode sair como Sarney. Resultado: a sombra dos Kirchner cobre a Argentina.

Mais do que as promessas de derrubada do establishment e das oligarquias, mais do que cortar cabeças e invadir Polônias, o real e imediato perigo dessa brincadeira é desacreditar de vez qualquer proposta liberal futura, dar razão à esquerda e enterrar o que há de bom no livre mercado sob os escombros do obscurantismo reacionário. As cartas estão todas sobre a mesa. Nomes e sobrenomes, caras e crachás. Ninguém mais finge ser o que não é.

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