(Reprodução YouTube)| Foto:

Dias atrás, durante entrevista com o técnico da seleção brasileira, Neymar chorou. Chorou do jeito que Neymar chora: contido, desajeitado, como quem se proibisse de chorar. Aliás, como quem fosse proibido de sentir, dizer, pensar qualquer coisa que não seja contrato de publicidade, negociação salarial, transferência, problemas com o fisco. Neymar é uma sombra de Neymar.

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O indiscutível talento brasileiro, surgido em 2009, de ascensão consistente, por vezes trai alguma coisa que não é revelada às claras. Tudo em Neymar é produto, método, cálculo, preço: sua permanência no Santos; sua saída do Santos para o Barcelona; sua adaptação à Espanha e, principalmente, sua nova tentativa de ser protagonista longe de Lionel Messi.

Sair do Barcelona como saiu, repetindo o que fizera no Santos, só não foi mais constrangedor do que o próprio motivo que o fez sair: ser o melhor do time, o melhor do mundo, longe dos melhores, longe do mundo. Trocou a amizade e a alegria no time catalão pelo dinheiro e, mais do que dinheiro, pelo poder em Paris. Agora chora, reclama, murmura, emburra, sapateia – e não é preciso ser nenhum Roland Barthes para perceber que os signos da felicidade não estão ali.

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Neymar é provavelmente o craque menos querido de que se têm notícia. Contrata-se Neymar como se contrata um corretor de imóveis eficiente. Você sabe que ele vende casas. Você sabe que ele faz gols e distribui dribles. Você sabe que ele vende camisas. Nada nele é solto, nada nele é vagabundo, nada nele é distraído. Nem o choro.

Neymar é encerrado em si mesmo, trancado em seu próprio condomínio mental, asfixiado pela figura do pai que lhe sabe todos os passos, todos os gols e todos os fios da cabeça. Neymar é triste e crispado, como quem estivesse constantemente sob suspeita, como quem nunca tivesse jogado bola na rua, com os pés descalços, com as traves feitas de chinelos, sonhando em ser o novo Pelé numa Copa do Mundo disputada no Brasil.