Eu estava aqui no meu canto, todo inocente, rindo com as estripulias políticas do presidente e sua turma, feliz por ter encontrado um substituto à altura da saudosa Dilma Rousseff, nesse governo que é mais Veep que House of Cards, quando de repente me aparece um prefeitinho desprovido de senso de humor para estragar a festa. O de Nova York.
Não sei o quanto o democrata e demagogo (pleonasmo, eu sei, estou com preguiça) Bill de Blasio foi responsável pelo cancelamento da visita de Bolsonaro à (lá vem o clichê) capital do mundo, mas que ele capitalizou o fato, capitalizou. A jogada política é manjada: De Blasio mirou no presidente brasileiro para acertar o presidente americano. Até aí tudo bem, eles que são ianques que se entendam.
Mas não está tudo bem quando o prefeito de Nova York, agindo com a maturidade política de um… de um… Fernando Haddad, move montanhas para que o presidente eleito de uma nação soberana – e, até segunda ordem, democrática – se veja obrigado a desistir de uma viagem pacífica e desprovida de relevância diplomática.
Deus está careca de saber o que penso sobre o Messias. Ele é um personagem desastroso e desastrado, o homem errado na hora errada, o jardineiro feito por Peter Sellers em Muito além do jardim.
No entanto, uma coisa é uma coisa e outra coisa é a hipocrisia dum democrata que não gosta de democracia e aparentemente se julga senhor da cidade que governa, como se Nova York não fosse o que é justamente porque sabe absorver, neutralizar e civilizar os conflitos e as divergências, os conflituosos e os divergentes.
Seja qual for a verdadeira natureza de Jair Bolsonaro, não me parece inteligente tratá-lo com a dimensão mítica que o mito não tem – para a maldade, inclusive. Noutras palavras, Bolsonaro é muita coisa, merece críticas, merece risos, merece lamentos, merece até governar o Brasil, mas fazer dele um monstro que não pode pisar numa cidade que já recebeu o King Kong, isso revela mais de quem proíbe do que de quem é proibido.
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