Av Brigadeiro Faria Lima, SP (foto Wikimedia Commons)| Foto:

Roberto Alvim, secretário do governo Bolsonaro, foi demitido. Demissão injusta e mil vezes injusta, porque ele fez o que esperavam dele. Seu pecado foi ter sido explícito demais até para os obscenos padrões dessa, aspas, gestão.

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Depois de publicar um vídeo em que psicografava mensagem de Joseph Goebbels, com um grau de fidelidade estilística e de familiaridade ideológica que me fez acreditar nos escritos de Allan Kardec, Alvim culpou assessores e jurou que a paráfrase era coincidência, das que acontecem todos os dias. Muito embora considere “perfeito” o sentido da frase.

Quem nunca fez discurso nazi sem perceber?

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Ora.

Tão vergonhoso quanto copiar uma estrovenga daquela é escrever aquilo sem nem perceber. Ou seja, a filosofia está mais entranhada nele (retifico: nos assessores) do que gostaria de admitir.

E que coisa é essa de “arte nacional”? De arte com inicial maiúscula? Eu lá quero saber de arte em papel timbrado, que reflita esses e não aqueles valores, considerados nacionais ou comunitários, sentimentais ou verdadeiros.

A estética fascista e o realismo socialista coincidem no mesmo elã: desprezam e criminalizam a arte genuína como decadente, burguesa, gay, negra, judia, doente, ateia, cristã, suja, depravada, colonialista, individualista. Não deixa de ser triste que logo o Alvim, fundador e diretor do nada reacionário Club Noir, tenha se dobrado à ignorância.

Mas este foi apenas mais um episódio de um governo que, desde a pré-candidatura, anuncia a que veio e cumpre o que promete: governar como quem se vinga e justificar a inoperância política com os resultados (até agora tímidos) da economia. Como se, aliás, a política pudesse – e devesse – ser reduzida à cotação da Bolsa.

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Pois a economia é muito, mas não é tudo. Filósofos como o falecido Roger Scruton, expoente de um conservadorismo que nada tem que ver com a balbúrdia tropical, e os mais citados que lidos (ou compreendidos) GK Chesterton, Michael Oakeshott, Raymond Aron e Edmund Burke, nunca submeteram o espírito liberal em política ao arbítrio e à volatilidade dos mercados.

O livre mercado é bom, eu gosto, mas ele costuma ser livre até mesmo das amarras éticas mais estritas, e serve para sustentar quaisquer regimes, inclusive os fascistas. O processo de mercado é amoral e, portanto, os valores individuais e comunitários dependem mais da interação na sociedade que propriamente do mercado, entendido de maneira abstrata. Nem todo ganho econômico justifica qualquer regressão política. Isso não é opinião, é história. Já deveríamos ter aprendido a lição.