O presidente eleito (pelos petistas) Michel Temer disse que o povo brasileiro não tem muito apreço pelas instituições. Temer, que foi pego com a boca na botija institucional ao tratar com Joesley Batista, no escurinho da República, de sabe-se lá que assuntos, pondera que é importante que as autoridades conversem entre si, isso é razoável, e as especulações geradas são desmoralizantes. Bom saber que Joesley Batista é autoridade, ato falho à parte. Dispensemos o latim: ele está dizendo que as futricas entre as autoridades têm é de ficar por isso mesmo, aconteçam ou não fora da agenda, da decência, da conveniência.
Michel Temer advoga em causa própria. Não apenas por ser um político habilidoso como poucos, mas porque seu partido há muito tempo é uma espécie de supra-instituição nacional, e ninguém governa ou deixa de governar sem o aval do PMDB. Se Montesquieu disse que a tripartição do Estado moderno garantiria os “freios e contrapesos” saudáveis à democracia, no Brasil os “checks and balances” ficam por conta do PMDB: é o partido que legisla, que julga, que executa. Tudo bem equilibrado. O Estado é só um detalhe.
Estou certo de que a política é feita de acordos e composições, ninguém nasceu ontem, Temer nasceu há mil anos, e a incapacidade de conquistar terreno depõe contra o político. Jair Bolsonaro é exemplo: três décadas de atividade legislativa sem resultados concretos e relevantes. Fala, grita, sapateia – e nada. Ou seja: se vencer em 2018, na melhor das hipóteses, terá a mesma capacidade de negociação de Dilma Rousseff. Estamos feitos.
O presidente prega aquilo que não pratica com tanto afinco como quer parecer. Economia (méritos inegáveis) à parte, que instituições respeitaremos: o Supremo Tribunal Federal, que é doce como avó para (e somente para) os seus? O Congresso Nacional, cujos excelentíssimos fazem de tudo para que tudo seja feito para eles? O Poder Executivo, puxadinho improvisado de partidos e empreiteiras?
Posso concordar com Michel Temer; até gosto de concordar com Michel Temer: os brasileiros não temos muito apreço pelas instituições. Entretanto, salvo se viermos a descobrir que Temer nasceu mesmo na Transilvânia, até onde sabemos ele é brasileiro; brasileiro não respeita as instituições; logo, etc.
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