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O STF deu uma fraquejada?

Vejam as voltas que o STF dá.

Há não muito tempo, Eduardo Bolsonaro disse que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal. Festa na taba, urros de anuência, militância satisfeita. Que bom que não levaram a proposta muito a sério, pois nunca se sabe quando o STF será necessário.

Estamos no dia 19 da Nova Era e o incorruptível Flávio Bolsonaro já precisou pedir ao STF a suspensão das investigações e o privilégio do foro especial. Foi prontamente atendido pelo Excelentíssimo Fux, que fez um excelentíssimo trabalho, como sói.

Se juridicamente há controvérsias, respeitem-se as controvérsias jurídicas. Ao direito o que é de direito; portanto, se houver o direito, que seja observado. Quem gosta de democracia direta, de fechar a Suprema Corte e de suspender garantias não sou eu. O que não existem são controvérsias morais, políticas ou eleitorais. Isso é ponto pacífico; mais do que pacífico, pornográfico (Alexandre Frota à parte).

Bolsonaro e família venderam o peixe do combate à corrupção e trombetearam exaustivamente contra o foro dito privilegiado (foro especial por prerrogativa de função). É o tal negócio: sabemos que peixe demais, até quando bom, cheira mal. Também o paladino dos bons costumes jurídicos, Sérgio Moro, noutros tempos chamou o foro de “escudo da impunidade”.

A coisa toda é muito escura e por isso mesmo muito clara: com foro ou sem foro, nesse angu político tem caroço ético. Fosse tão limpinho quanto se apresenta, Flávio Bolsonaro não teria sequer cogitado o pedido. É uma confissão de culpa que resvala no estelionato eleitoral. Ele prometeu o que não pretende cumprir.

Entre a militância, o silêncio é tão constrangedor quanto eloquente. A cada dia que passa fica mais explícita a decisão de ignorar o que quer que venha (de ruim) do governo. Muita gente fez investimento emocional pesado na campanha; admitir erros não se cogita. De resto, na Escala PT de improbidade, a dobradinha Queiroz e Bolsonaro é um tremorzinho ético de nada.

Aliás, dada a magnitude de sua ficha corrida, o Partido dos Trabalhadores será o álibi retórico perfeito para todos os governos vindouros até o fim dos tempos. Até nisso eles desgraçaram o país: ficamos sem parâmetro moral e sem vergonha na cara. O PT alargou as pudendas partes da República.

Governo nenhum superará o de Lula em volume e diversidade de crimes; estamos todos de acordo. O problema agora é o seguinte: quais são os níveis aceitáveis de corrupção no sangue da pátria?

Enquanto isso, deputados do PSL vão passear na China; o guru do governo não quer mais ser chamado de guru do governo; o governo recua tanto de suas decisões que falta só mais um pouco para retomarmos o mandato de Michel Temer; Paulo Guedes se enrosca e se enrola na realpolitik; Mourão discorda em público de Araújo; Jair Bolsonaro perde a fala e nada tem a dizer de muito preciso.

Não, não estou torcendo contra o Brasil; estou descrevendo o que acontece. Não, não faço oposição ao Bolsonaro; quem faz são os outros três: Huguinho, Zezinho e Luisinho. Minto: Eduardo, Flávio e Carlos.

Deixo uma gratuita recomendação para mostrar minha boa vontade e meu patriotismo: mantenhamos o STF aberto (pelo menos até o próximo mandato? Depende de quem vencer) e defendamos as mais estritas e oportunas garantias processuais. Até o foro. Até o privilégio. Até a prerrogativa.

Ninguém sabe o dia nem a hora.

 

 

 

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