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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

O técnico e o monstro

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, durante entrevista coletiva.
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, durante entrevista coletiva. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Mansueto Almeida pediu demissão. Era secretário desde o mandato de Michel Temer. Bem preparado e criterioso no ajuste fiscal, especialista em contas públicas, é mais um quadro técnico que se despede de um governo destinado ao fracasso. E a perda é relevante porque partiu da equipe econômica o laudo de sanidade para que o empresariado confiasse em tamanha desventura eleitoral.

Não todos, mas muitos dos 57 milhões de votos foram depositados na urna de uma racionalidade administrativa que não vingou. O laudo era fajuto. A racionalidade perdeu espaço para o fisiologismo do Centrão e para os desvarios das extremidades.

Nenhuma surpresa. Paulo Guedes não faz ideia do que seja coisa pública. Não é homem público, é homem privado. Mora no Brasil, mas não vive nele. Competente para multiplicar os próprios dividendos e tourear a especulação financeira, provou que desconhece o país e seus profundos desajustes históricos e sociais. Provou que nem mesmo se importa.

Mas, nomes à parte, é chegada a hora de ir além dessa artificial – e bastante condescendente – distinção entre um governo político e ideológico de um lado, e um governo técnico e pragmático de outro. O primeiro envergonharia o segundo. O segundo justificaria o primeiro.

Isso sequer faz sentido, por duas razões.

Política é um fenômeno de poder e legitimidade. Ministros, mesmo quando hábeis e competentes, são demissíveis. Descartáveis. Nalguns casos, figurativos. Nenhum deles – nem o que representaria maior valor simbólico, como Sérgio Moro – é intocável. Logo, podem-se convocar quantos burocratas existirem, podem-se alistar técnicos preparadíssimos, mas o que vale é o núcleo político-ideológico do mandato. Se o presidente da República tem pouco apreço às soluções técnicas, de nada valerão dez ministros graduados em Chicago.

Existe outra possibilidade mais comprometedora. Técnicos – ainda que bem-preparados, criteriosos, graduados em Chicago – podem muito bem avalizar governos autoritários; ou seja, fazer parte dele porque querem, porque podem, porque são vaidosos. O economista, o burocrata, o cientista, o empresário que porventura integre um projeto tão evidentemente antidemocrático terá de prestar contas dessa decisão. Sua credibilidade sairá arranhada. Prestar serviço a um determinado tipo de governo é, muitas vezes, prestar um desserviço ao país. “A quem muito foi dado, muito será cobrado”.

Governos desastrosos não podem ter quem lhes ateste a sanidade que não têm.

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