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A odisseia de Márcia Tiburi

Frederico Lourenço, intelectual português, traduziu magistralmente a Ilíada e a Odisseia, poemas atribuídos a Homero que, presumo, dispensam apresentações. Todos vocês sabem de que se trata. Lourenço também vem traduzindo, ele e Deus, a Bíblia sagrada. A Bíblia, pelo jeito, precisa de apresentações: é o conjunto de livros atribuídos a vários autores, inspirados por Deus, que contam a história do povo judeu e fundam o cristianismo.

Mas Frederico Lourenço resolveu descansar um pouco da tradução dificultosa da Bíblia grega e, para refrescar a cabeça, inventou de traduzir a Odisseia. Sim, de novo. Acrescentou à edição anterior mais trezentas páginas de notas filológicas, renovou muitas das soluções que encontrara na primeira tradução e, ora pois, quem faz uma vez faz duas vezes. Cansado de descansar, deve concluir sua Bíblia em breve.

Enquanto o amigo português, burro como o português das piadas, perde-se em afazeres de pequena monta, nossa intelectual pública mais barulhenta dá palestra em que comenta as várias instâncias éticas do “cu”. Prioridades, amigos, prioridades. De acordo Márcia Tiburi, o cu é importante nesse momento em que o Brasil, and I quote, está num momento “ultra-neo-fundamentalista, neopentecostal, neoliberal, o cu é precioso”. Ela encontrou sua Odisseia.

Que a pensadora junte “neoliberal”, “neo-ultra-fundamentalista” e “neopentecostal” numa mesma classificação denuncia o vocabulário (e o imaginário) de representante de sala, daquelas bem chatinhas, de colégio. Márcia Tiburi não tem mesmo senso do “ridículo político” a que se presta, e se aventura na impostura intelectual mais rasteira, que parte de guerras filosóficas antes imaginadas que vividas, para desembocar na saudosa Ítaca da ideologia.

Para ela, tratar o cu com “laicidade antropológica” é fundamental para “superarmos esse momento”. De que “momento” ela está falando, exatamente? Convivo diariamente com meu cu, ele passa bem e não reclamou de nada ultimamente. Foi aplaudida. Acontece que se há (e não estou certo disso) uma espécie de “fundamentalismo” conservador no Brasil e no mundo, sinto dizer, esse fundamentalismo não tem nada que ver com padres e freiras, pastores e diáconos. A Igreja católica não apita nada, hoje em dia.

O fundamentalismo que tem dado caráter sagrado, puritano e careta à sexualidade é o fundamentalismo feminista e, em parte, gay. O sexo, as aproximações sexuais, os jogos de sedução, a manifestação mais agressiva de desejo, a exposição da beleza, a beleza como forma de poder, a erotização dos corpos (e, nos corpos femininos, os seios), certa tendência, própria à natureza da sexualidade, de testar e ultrapassar limites – tudo isso, para o bem e para o mal, vem sendo estigmatizado por mulheres, especialmente mulheres adeptas de um feminismo reacionário, fundamentalista e cada vez menos relevante.

 

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