Depois daquele cruzamento de comício e via crucis profana que se deu em São Bernardo do Campo, no último sábado, o culto ao ex-presidente e atual condenado é o que mais cresce em número de adeptos, entre gente com QI médio abaixo dos três dígitos. Há militantes acampados em Curitiba, mais ou menos como quem passa meses para conseguir lugar em show de ídolo teen. Trabalhadores, Partido dos. Falando nisso…
…o Partido dos Trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam, como dizia o saudoso Roberto Campos, mudou sua sede para a capital paranaense, tudo para ficar mais pertinho de Sua Santidade. Bom sinal.
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Em Brasília, Gleisi Hoffmann e Lindberg Farias encabeçam um movimento para que parlamentares lulistas incluam “Lula” no próprio nome. Gleisi Lula Hoffmann. Lindberg Lula Farias. Etc. Eu acho muito bem. Esses e outros petistas querem adotar de vez o nome de guerra, o que lhes cabe perfeitamente, já que nunca foram outra coisa que não bonecos do Grande Ventríloquo. E digo mais: de falsidade ideológica eles não poderão ser acusados.
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O áudio que parecia ser do jornalista Chico Pinheiro, da Globo, acaba por se confirmar como sendo dele. A emissora publicou a seguinte advertência: “O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico.”
Ora, não haveria motivo para a nota se não fosse a convicção da autoria. Pois bem: Chico Pinheiro, pelo jeito, disse o que disse. (Espero que tenha dito mesmo, para eu não ter de escrever errata.)
Para quem não ouviu, ele chorou a prisão de Lula, tartamudeou idealismos e ideologias e atacou “eles”. Por eles entendamos todos nós – liderados pelo maléfico Sérgio Moro, vilão de história em quadrinhos – que ousamos engaiolar a pombinha da esperança.
Sinceramente, não me espanta nem me incomoda. Jornalistas têm opiniões e crenças, e têm o direito de ter umas e outras. Prefiro que jornalistas expressem o que pensam, sem temores nem pudores, mesmo quando só pensam bobagens. Do Chico Pinheiro, me surpreendi com o entusiasmo. Não imaginava que ele fosse assim de esquerda, petista, lulista. Ele tem cara de dorminhoco, e quem é dorminhoco não mata nem morre por revoluções.
O que fica disso tudo é apenas o ridículo a que tanta gente se submete, a cegueira com a qual tantos se acostumam, a fidelidade canina – canina não; no caso: asinina – de que muitos se orgulham. Chico Pinheiro não cometeu crime nenhum, nem sua ética jornalística, a rigor, me parece arranhada por acreditar no que e em quem acredita.
A única coisa que agora sei dele – já suspeitava, mas me foi confirmado – é aquela coisa prosaica e um pouco triste: a burrice lhe cai muito bem. Foram feitos um para o outro.
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Meus princípios políticos são os seguintes: não tenho princípios políticos. Ou os tenho, mas negativos. Em política, a via negativa me parece mais sensata; a saber: “Não esperemos grandes virtudes nos políticos, mas rejeitemos grandes vícios.”
Para respeitar a política enquanto arranjo imperfeito de convivência é preciso não respeitar os políticos. Se pretendemos professar algum saudável patriotismo, critiquemos os governos. E quando quisermos proteger as instituições, taquemos ovos e tomates nos burocratas.
Nalguns momentos da história, nalguns lugares do mundo, só depois de muita irreverência é que se pode – e se deve – demonstrar um pouco de reverência.
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