Essa foi a generosa sentença proferida em 13 de janeiro por Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, juiz para si mesmo sonhando, homem que ausculta os corações e lê a borra de café dos processos criminais.
Pois a Bolívia o extraditou. Extraditado, Cesare Battisti, o queridinho da esquerda tropical, resolveu confessar o que não precisava ser confessado – posto que provado já estava: participou, sim, do assassinato de quatro italianos. Comoveu-se. Pediu desculpas às famílias. Talvez devesse pedir desculpas também ao Juliano Medeiros, por frustrar suas expectativas e obriga-lo a uma inconveniente errata.
A confissão do terrorista italiano encerra uma das mais longevas temporadas ainda em cartaz do espetáculo mambembe protagonizado por gente como Lula, Boulos, Manuela, Gleisi, Genro, Zé de Abreu e grande elenco: aquele em que o bandido é o mocinho e mocinho nenhum entra na história.
Vem bem a calhar a entrevista do cientista político alemão Jan-Werner Mueller, no caderno Aliás, do Estadão, sobre o recrudescimento do discurso antidemocrático e a ascensão de líderes populistas.
Embora o autor do livro What Is Populism seja ponderado o suficiente para não cair na facilidade de identificar populismo autoritário com qualquer versão da direita, toda a conversa gravita em torno desse polo ideológico, que junta nomes como Donald Trump, Viktor Orbán e, claro, Jair Bolsonaro, num mesmo balaio.
Há, de fato, semelhanças entre eles, e entre eles e governos autoritários históricos: o incentivo à divisão, o apelo ao nacionalismo, o desprezo à democracia representativa e a crença na comunicação direta com o “povo”, que será sempre um certo povo – o nosso povo. Os outros não são povo; são apenas os outros.
No entanto, importa registrar que semelhanças e caraterísticas comuns não significam que o destino dos respectivos países seja também comum. A resiliência das instituições, a tradição democrática, o dinamismo social, a força dos mercados, a coesão da cultura e a rebeldia da imprensa tendem a frear ímpetos menos amistosos à liberdade.
Por outro lado, o affair Battisti – e Fidel, Che, Chavez, Maduro… – ilustra bem as verdadeiras intenções de muitos dos que hoje se arreganham e dizem se preocupar com o autoritarismo de direita. O assassino italiano é apenas um, entre tantos e tantos exemplos, de como a esquerda instrumentaliza os direitos humanos, trata a democracia como jogo de azar, ajusta a narrativa histórica e bajula o que há de menos humanista em política.
Não custa lembrar que o padrinho de Cesare Battisti no Brasil foi o ex-presidente e atual condenado Luiz Inácio, ele próprio alpinista social e golpista político, gângster que privatizou o Estado e o transformou num puxadinho de sítio em Atibaia.
A democracia corre perigo, sim, e não só ela: a civilização é um arranjo fragílimo que se arrebenta fácil, ao menor piparote. Os bárbaros sempre estão defronte os portões, eles chegam de todos os lados. Desafiar o Parlamento e afrontar a imprensa são atos tão graves quanto comprar o Parlamento e manipular a imprensa. Esquerdista nenhum, dos que andaram pedindo conselhos a corruptos e ciceroneado homicidas, tem do que reclamar.
É o trapo que reclama do rasgado.
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