Mysterious Illness - Cecil Aldin. New York Public Library, Internet Archive (OBI) | Foto:

De tempos em tempos, certas discussões servem para nos lembrar de que a estupidez humana não tem sentido nem direção.

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Neste final de ano, a mais nova batalha entre direita e esquerda aconteceu no âmbito da pirotecnia: fogos de artifício não deveriam existir, diz a esquerda, porque incomodam e maltratam a sensibilidade dos animais; para a direita, os únicos animais sensibilizados com os fogos são os próprios esquerdistas, e cachorro bom é cachorro morto – ou que aguente como homem conservador o barulho das festividadades.

No entanto, assumo a seguinte premissa: quanto mais barulhento, ou insensível ao barulho, é um povo, menos civilizado, ou propenso à civilização, esse povo é. Está aí o funk carioca que não me deixa mentir.

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Embora eu saiba que a esquerda – ou esse amálgama de reivindicações, taras, suscetibilidades, ativismos a que foi reduzida a esquerda – costuma se apropriar de causas justas e de intenções nobres, neste caso cabe à direita o privilégio de ser imbecil em primeiro lugar. No campeonatinho ideológico disputado nas redes sociais, todo torturador de cães se acredita um Roger Scruton em desvio de função.

Sim, eu sei, rir-se do sofrimento animal não faz de ninguém um torturador de cães e gatos; porém, quando insistente demais, denuncia alguma tendência inconfessada. Registre-se que a falta de empatia para com animais, bem como a despreocupação irresponsável com a ecologia, também não faz de ninguém o T.S. Eliot. Enfiar uma bombinha na bunda do gato é um pouco diferente de escrever “The Waste Land”, sinto informar.

Todo rapazinho de direita parece acreditar que esquerdismo se pega como doença venérea. Todo homenzinho de direita, criado na estufa das mídias sociais, tem medo de ter pensamentos de esquerda e acordar com a mão peluda.

Que a esquerda tenha se apropriado de certas causas não deveria estimular à direita uma reação canina às causas contrárias. Antes, o contrário: cabe aos homens de boa vontade compreender que muitas das preocupações tomadas de assalto por determinados grupos deveriam ser resgatadas por todos.

Eu não preciso ser ambientalista para perceber que a degradação ambiental em larga escala faz do mundo um lugar pior, e não melhor, para viver. Eu não preciso ser hippie para entender que fogos de artifício incomodam animais, velhos, crianças e doentes, e deveriam ser usados com parcimônia – ou evitados, tanto quanto possível. Eu não preciso ser muito sagaz para notar que quem não tem o cão do bom senso caça com o gato da idiotice.

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