Roger Waters| Foto:

José Guilherme Merquior, num folclórico episódio da vida intelectual brasileira, chamou Caetano Veloso de “subintelectual de miolo mole”. Sinceramente? Injustiça com o Caetano.

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Quem leu Verdade Tropical e a coletânea de ensaios O mundo não é chato sabe que o baiano é inteligente e menos previsível do que parece. Bem menos arrumadinho e previsível, por exemplo, que o Chico Buarque. Seja como for, Caetano Veloso concordou humildemente com o erudito diplomata, e ponderou: “Sou apenas uma pessoa do entretenimento que dá suas opiniões”.

Isso não é pecado, nem é crime. Muita gente que hoje se tem em alta conta seria tratada com ainda menos respeito por José Guilherme. Uma pena que ele não esteja vivo para denunciar as mistificações intelectuais e políticas de tantos que pretendem se dedicar à denúncia das mistificações intelectuais e políticas de outros tantos, e transformam a alta cultura em baixa pedagogia.

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A provocação do autor de O argumento liberal e a As ideias e as formas continua atualíssima.

Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, depois de estrebuchar no Brasil à época das eleições – as quais, salvo engano, não lhe diziam nenhum respeito –, agora volta sua consciência cívica global à denúncia do que acontece na Venezuela. Waters está horrorizado. Com a fome, as prisões, os assassinatos perpetrados pelo ditador Maduro ao seu povo? Não. Mas sim com o que considera “golpe dos EUA” aos venezuelanos. Golpe. Dos. EUA.

Dias atrás, Bono Vox, padroeiro da hipocrisia midiática internacional, denunciou pela enésima vez os “males do capitalismo”. Para ele, o mundo é ruim porque tem capitalismo demais. Que seu grupo de rock, U2, seja uma multinacional do entretenimento desde o início dos anos 80, movimente bilhões de dólares em discos, shows, eventos, entrevistas, clipes, camisetas e um sem número de produtos e serviços relacionados não conta para as contas de Bono. Franciscano com a fome alheia, o cantor garante que o problema do mundo é o capitalismo – feito pelos outros.

Diante de bobagens desse jaez, que fazer? Ouvir a música, ler o livro, ver o filme, porque as opiniões não importam tanto assim. Em alguns casos, basta dizer: eles – artistas e respectivas opiniões – se merecem.

As opiniões dos artistas, grandes ou pequenos, relevantes ou não, são palpites como outros quaisquer. Roger Waters, Bono Vox, David Byrne e Madonna podem falar o que quiserem sobre ditadura, capitalismo, crise ambiental e religião.

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Não sou daqueles que acreditam que artista bom é artista calado, fazendo arte e somente arte. Artista é gente, quer dar opinião, não há escândalo nisso. Eles podem errar, e erram muito, porque sua arte não significa sabedoria ou ciência. O escandaloso é que, de vez em quando, por incrível que pareça, alguns até acertam. Isso sim é um acontecimento digno de nota. Um cisne negro.