Reclamam tanto da Marina Silva… Da sazonalidade de suas intenções políticas e de sua timidez. A cada quatro anos ela reaparece como doença de estação para, logo em seguida, desaparecer novamente. Enquanto o país queima, Marina esfria. Enquanto todos fazem campanha fora de época, Marina Silva mal faz campanha na época apropriada.
Pois eu acho muito bem e concedo a Marina um minuto de reverência: que ela continue assim e, sobretudo, que faça escola. Repito: que faça escola. Quero que todos os políticos desapareçam do mapa e só voltem, se tiverem mesmo de voltar, depois de quatro anos. Que sejam tão breves quanto amor de verão. Que sejam tão inofensivos quanto doenças de estação.
Marina Silva é tudo o que espero de um político: discreta a ponto de quase não existir. Uma salva de palmas para Marina Silva, Marina morena, Marina que vem e que vai.
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Era uma vez o governo Lula…
…quando milhões de pessoas saíram da miséria e viraram pobres; outros milhões deixaram de ser pobres e viraram classe-média.
(Os empreiteiros ganharam mais ainda. Quem disse que o PT não gosta do capital?)
Então Lula passou o bastão para a Dilma que, toda atrapalhada, deixou o bastão cair, e o Temer, levado da breca, pegou o bastão.
De repente, todos aqueles que no maravilhoso mundo do Lula tinham virado classe-média voltaram a ser pobres; quem era pobre tornou a ser miserável; e quem era miserável morreu.
(Empreiteiros continuaram empreiteiros.)
Culpa do Temer, do FHC, do golpe, do Trump, de quem bate panelas, das panelas batidas.
Quando a miséria e a pobreza são vencidas, são vencidas. Se não para sempre, ao menos por tempo razoável. A não ser que os muitos empresários – homens e mulheres de sucesso do governo Lula – tenham decretado falência, quem deixou de ser miserável ou pobre, se tivesse deixado mesmo, não iria descambar tão rapidamente. Só descambou por um motivo: a miséria e a pobreza nunca foram de fato extirpadas.
Ninguém deixou de ser miserável ou pobre no governo Lula.
O que aconteceu foi que o desgoverno petista estimulou o consumo, distribuiu caraminguás, todo mundo saiu gastando na padaria, na faculdade ruim e financiada, no automóvel caro e financiado, nas Casas Bahia, no shopping center, e achou que isso era ser rico, ou quase. Não era, não é, nunca foi, nunca será.
Lula foi para o Brasil o que a FIFA é para o futebol, principalmente quando chega com suas traquitanas jurídicas de estado de exceção e se instala no eventual país da Copa, como se fora invasão alienígena: tira os pobres da calçada, pinta os muros, arruma o asfalto, desvia o tráfego, esconde a sujeira, cobre o estádio e ganha o dinheiro. Depois vai embora.
Pobres, muros, asfalto, sujeira, tráfego continuam lá, do mesmo jeito: terra devastada.
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A Polícia Federal pediu a remoção de Lula. A prefeitura de Curitiba também. Lula dá trabalho quando livre e quando preso. Lula custa caro aos cofres públicos quando livre e quando preso. Lula é a casca de banana, o nó, a gafe, o pau, a pedra, o fim do caminho.
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“Se não tem qualificações técnicas, não pode ensinar” – houve quem comentasse sobre minha crítica à necessidade de formação superior para orientar a correr.
Eu sinceramente tenho pena de gente assim. Mentira, não tenho. Tenho alergia de gente assim. Quando encostam em mim na fila do banco, procuro infectologista. Se calhar, benzedeira.
O sujeito sabe alguma coisinha, ou a coisinha da coisinha, ou o subconjunto da coisinha, e quer dar carteirada. Como diz o Roberto DaMatta: “Sabe com quem está falando?!” é a frase predileta do brasileiro.
Do brasileiro que precisa valorizar aquele conhecimentinho dele, aquela cienciazinha de mostrar pra vó, “Olha, vó, o que eu sei fazer”, e o que o pobre-diabo sabe fazer é, sei lá, dizer que banana é bom pros músculos porque tem potássio. Fetiche por diplomas e certificados, por títulos e crachás.
Todo mundo aqui tem ou quer ter anel de doutor, anelzão verde ou vermelho, e isso explica a quantidade de prêmios e patentes que nós recebemos e registramos, não é mesmo?
Olha, vó, o que eu sei fazer.