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Pelo jeito, a operação Lava Jato já não tem sexy appeal. Petistas e demais miudezas da esquerda, et pour cause, viam na força-tarefa tão somente um instrumento político para tirar os representantes do povo (e dos banqueiros) do poder. Tucanos, como alunos despreparados na prova oral, tentavam se fazer de mortos para não chamar a atenção da audiência. Já os bolsonaristas fizeram amizade com os bullies da sala, e assim foram eleitos. Mas tudo mudou.

Tudo mudou desde que, com a demissão de Sérgio Moro, o presidente assumiu de vez as diferenças entre o bolsonarismo e o lavajatismo. No princípio ainda havia interesses comuns, alianças táticas, discursos coincidentes; mas o quadro geral denunciava que a arranjo era instável e implodiria cedo ou tarde. Implodiu cedo. Eu disse que tudo mudou desde a demissão de Sérgio Moro? Retifico: tudo mudou quando o convite foi feito e aceito.

Ali, na promíscua união entre o juiz e o político, entre o criador e a criatura, o que havia de bom na Lava Jato morreu. O cadáver insepulto desde então vaga nos corredores do planalto, assustando o baixo-clero e assediando os vampiros do Centrão. Acontece que o Centrão agora é o centro nervoso do próprio governo, e o puritanismo interessa menos do que interessava antes da eleição. Foi bom enquanto durou.

Nas recentes declarações de Augusto Aras, procurador-geral da República, pode-se ouvir o baque surdo da última pá de cinismo sobre o argumento de quem acreditava num Bolsonaro ético, interessado no combate à corrupção e no fim dos acordos espúrios e das negociatas à margem da lei. O que Aras disse – em consonância com os movimentos do presidente – é bastante próximo do que os críticos da força-tarefa têm dito há muito tempo: o combate ao crime, representado pela trupe de Curitiba, tinha estourado os limites e ganhado vida própria.

Quando seu governo e sua própria família passaram a ser alvo daqueles intrépidos procuradores que tanto bem lhe fizeram, a quem ele tanto deve, Jair Bolsonaro de repente entendeu que existem limites, presunções, processos, legalidades, princípios, demoras, acordos, acordões. Quem temia que uma vitória de Fernando Haddad (preposto de Lula) significasse o fim da força-tarefa, viu Bolsonaro fazer o serviço com rara competência.

A ironia é que Bolsonaro só é presidente porque o combate ao petismo, que tinha suas tantas razões de ser, metamorfoseou-se num combate generalizado à política, aos candidatos, aos partidos e às inconvenientes garantias constitucionais. Como Bolsonaro era muito pequeno para ser captado pelo radar da grande corrupção, apresentou-se ao distraído público com ares virginais, embora tivesse 27 anos de experiência. A faixa lhe sobrou quase que por W.O. Com ela no peito, amparado por 57 milhões de votos, pode agora cuspir à vontade no prato em que se tanto se esbaldara. Alguma surpresa?

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