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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

Um anãozinho moral

Eduardo Bolsonaro na ONU (Foto: )

“O que aconteceria se John Lennon estivesse armado?”, pergunta o dublê de chapeiro, deputado nas muitas horas vagas e candidato à embaixada do Brasil nos EUA, Eduardo Bolsonaro, enquanto posa fazendo arminha diante da escultura Non Violence, de Carl Fredrik Reuterswärd, em homenagem ao beatle. Um capeta em forma de guri.

É mesmo uma pergunta retórica bastante pertinente. O socrático deputado poderia refazê-la a si mesmo com a seguinte variação: “E se Adélio Bisco estivesse armado?” É de se pensar. Porque havia seguranças armados em torno do presidente Jair Bolsonaro, mas isso não impediu que o desequilibrado Bispo atentasse contra a vida do indefeso Messias. Mais do que a facada, um tiro à queima-roupa teria sido letal.

Não sou pacifista, em sentido estrito, pois reconheço a necessidade do uso da violência para a ordem social. A violência é uma potência neutra, que pode e deve servir a propósitos bons e úteis. Defender-se a si mesmo; defender a própria família; defender a aldeia, a cidade ou o país de agressões injustas e despropositadas. Como qualquer paixão humana, pode ser bem ou mal direcionada.

A cada oportunidade que tem, no entanto, Eduardo Bolsonaro demonstra que, para ele, a violência é um fetiche. Uma tara. Uma mania. Já quando seu pai se recuperava de intervenção cirúrgica no hospital, lá estava o 03 com arma na cintura, bem à mostra, como se ali também fosse hora e lugar para rejeitar todo pacifismo. Monomaníaco, parece ver na força a oportunidade de afirmar virtudes que não tem.

Mais do que um conjunto indeterminado de atos, a política é feita de liturgias e ritos, de manifestações simbólicas e gestos de valor, e vai além da legislação positiva, das promessas de campanha, do pleito eleitoral, da equipe econômica, do regimento interno ou dos discursos parlamentares. Sobretudo, é uma visão de mundo, com suas predileções éticas e intelectuais.

Com sua estreita percepção da realidade, Eduardo Bolsonaro decerto teria rejeitado o espírito da mensagem evangélica: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”. Teria rechaçado também os valores de Atenas e aderido aos de Esparta. Justificar-se-ia fazendo arminha defronte o Partenon, como quem perguntasse, “O que aconteceria se Socrates estivesse armado?”, incapaz de imaginar que Socrates teria bebido a cicuta com serena convicção.

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