O ator Pedro Cardoso, que vive há três anos sendo patriota em Portugal, disse à Folha de S.Paulo: “De todos os meus erros, o PT foi o meu melhor erro.”
Violinos.
Depois de enxugar as lágrimas, concedo: eu até compreendo o que ele quis dizer.
Num futuro não tão distante, mas cada vez mais distante, o PT representou qualquer coisa de genuíno no país redemocratizado. Houve quem acreditasse a sério no discurso de que a nova política nascia com o torneiro mecânico nascido analfabeto e banguela.
Aquela política de gente que, desde o bercinho, empunhava títulos nobiliárquicos e exibia dentes perfeitos, estaria com os dias contados.
Só que não estava.
Não estava porque Lula e sua Corte sempre estiveram mais próximos das tais elites que propriamente dos tais analfabetos e banguelas; estes são bons de voto. Na verdade: são bons apenas para votar. Existem (servem) para isso.
Enquanto qualquer economista que se preze sabe que o trabalho é o melhor programa social que existe, “o Partido dos Trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam” (Roberto Campos) apostou sempre no voto barato, no crédito barato, no discurso barato.
Muita gente caiu nessa, depois de lamber os beiços e chupar os dedos de tanto gastar o que não havia. Quando o mundo real deu o ar de sua desgraça, deu no que deu.
Depois de ouvir por tempo demais o canto da sereia populista, é difícil reconhecer que o PT não foi o melhor, o mais bonito, nem o mais ajeitadinho dos erros: foi erro, tão somente erro, e um erro bem chinfrim.
Pedro Cardoso é ator de talento, tem cultura e deve se lembrar da divisa de Samuel Beckett: fail better da próxima vez, Cardoso, porque errar uma vez é humano; errar duas vezes é petismo.
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Por falar em Portugal, parece que os brasileiros estão se vingando tardiamente. Uma das hipóteses de nosso proverbial atraso é que Portugal nos colonizou com o que de pior havia lá. Não sei se acredito muito nisso, mas uma coisa é certa: a colônia contra-ataca. O brasileiro virou a febre verde-amarela do português.
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Dona ONU andou espalhando fofoca por aí (agora dão o enjoado nome de fake news): um certo comitê emitiu um certo comunicado dizendo que uns certos direitos políticos de Lula deveriam ser garantidos. A ONU é uma espécie de solteirona, já passada em anos, desesperada por atenção: surgida no pós-guerra, toda cheia de charme e ideais, há muito não representa nada que não seja diplomacia com os piores e dedinhos em riste contra os menos piores. A recomendação tem tanta validade quanto os direitos políticos de Lula.
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Quando me deparo com eleitor muito eufórico, empanturrado de certezas, defendendo seus candidatos como quem defenderia pai e mãe, falando de democracia (seja para aprofundá-la, seja para destruí-la) com ímpetos de Antigo Testamento, me ocorre imediatamente: o eleitor convicto é o mais perigoso dos eleitores. Mais do que em ciência, mais do que em religião, o ceticismo é um santo remédio em política.
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A propósito de dissensões entre intelectuais, e da (des) união de uns e outros – direita contra esquerda, direita assim contra direita assado –, pondero que nem sempre o “bem comum” é comum de fato; e, outras vezes, nem mesmo bom esse bem é.
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