Lula, a vítima, em Porto Alegre. Foto pt.org.br| Foto:

As palavras e as coisas têm um sentido para alguns e outro sentido muito diferente para os demais. Vejamos.

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1 A esquerda em geral (Manuela d’Ávila, Guilherme Boulos…) e nossos petistas em particular (Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad…) tendem a ser fortemente contra o direito, observado em muitos países, de o cidadão ter armas para a própria defesa. Aliás, o espírito desse direito nem seria tanto o de autodefesa em casos de crimes comuns, mas da potencial defesa de um povo contra governos despóticos. Seja como for, o fato é que esta é uma pauta da esquerda: o desarmamento. Não só o desarmamento do cidadão, como até mesmo o desarmamento da força policial, se possível. Curiosamente, bastou Lula ser preso – respeitado o devido processo legal, a mais ampla defesa, noves fora alguns privilégios etc – para que gente mais exaltada viesse a público berrar: “Pegaremos em armas!” Duas perguntas: Que armas? Com que direito?

2 Falando em violências e fascismos, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo emitiu, mais do que uma nota, uma declaração de princípios. A propósito das agressões sofridas por jornalistas na cobertura dos últimos acontecimentos, o Sindicato ponderou que tais agressões, ainda que reprováveis, são o resultado da linha editorial das empresas envolvidas no “golpe”, e que tais incidentes serão evitados com a “retomada da democracia” e a soltura do ex-presidente e atual condenado. Defesa exemplar da liberdade de imprensa.

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3 Num congresso (Fórum da Liberdade) de presidenciáveis ocorrido ontem, em Porto Alegre, o sereníssimo Tiro Gom…, minto, Ciro Gomes desferiu um tapa em Arthur do Val, do canal Mamãe Falei. O tapa foi fraco, Ciro estava desarmado e havia testemunhas, mas o espírito do tapa é o espírito do tempo. Motivo? Arthur perguntou ao Ciro se ele faria o que disse que faria: se receberia Sérgio Moro “a bala” e se “sequestraria” o Lula, para salvá-lo. “Procurado, Ciro negou prontamente a agressão. “Tu acha que se eu tivesse batido nele não tinha uma marquinha? Do jeito que eu sou…” Pois é, do jeito que ele é. Alguém já disse que este país está cheio de fascistas?

 

4 Em entrevista no sindicato onde Lula dramaticamente se refugiou, certa militante disse que “viu Lula no palanque em 1989 e foi amor à primeira vista”. Desde então, votou nele em todas as eleições. Em suma: não importa o que tenha acontecido ou viesse a acontecer, ela votou e votaria nele por princípio. Outra moça, professora, foi taxativa: “Se o Lula me mandasse votar num cão, eu votaria.” Não nos esqueçamos de que Lula fez da própria prisão uma espécie de Via Crucis, com direito a missa e tudo. Depois querem que a gente acredite que o Estado é mesmo laico e reclamam do inocente jejum do Deltan Dallagnol.

5 A propósito da controvérsia jurídica sobre o trânsito em julgado e a prisão depois de segunda instância, gostaria sinceramente que os defensores da mais ampla e protelatória defesa e dos recursos os mais extraordinários estabilizassem os critérios um momentinho, para que nós possamos acompanhar o raciocínio. Por ex: essa compreensível preocupação com a sanha persecutória e o estado de exceção só vale quando se trata de garantir a liberdade de certos políticos, ou valerá para todos os outros políticos, para os empreiteiros, para os assassinos de Marielle?

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