Em 1956 era publicada a primeira edição do romance O Encontro Marcado, do mineiro Fernando Sabino. No último dia 12 a editora Record mandou à prensa a centésima edição. 100 edições. 500 mil exemplares vendidos. E eu me emociono com a notícia.
Para quem ainda não leu, recomendo que leia. Hoje, agora, no máximo depois de amanhã. É um dos primeiros (ou dos bons) romances autobiográficos, espécie de autoficção, da literatura brasileira. Bildungsroman urbano, esperto, de frases limpas, de melancolia adolescente – para ser mais preciso: dessa adolescência tardia dos “jovens adultos”, como nota Alvaro Costa e Silva.
Fernando Sabino antecipou o mood de tantos outros livros que vieram depois, como o muito falado, lido e vendido, hoje quase esquecido, do inglês Nick Hornby, High Fidelity [Alta Fidelidade], e de filmes (para quem nasceu agora há pouco e precisa doutras referências mais reconhecíveis) como os de Jim Jarmusch e, principalmente, Noah Baumbach.
A nostalgia e o apego, as questões existenciais misturadas com anseios banais, (o existencialismo sempre foi uma tremenda, porém irresistível, banalidade), a dificuldade de adaptação, a amizade e a perda da amizade, a juventude que mal chegou e se esvai, os amores difíceis e risíveis. Aquela situação (que não sei ainda existe, entre essa meninada cheia de certezas e cinismos) de filosofar sobre a vida e a morte, o ser e o nada, Deus e o diabo.
Tudo o que importa sentir e pensar numa certa altura da vida, tão fugaz quanto intensa, está nesse romance de Fernando Sabino. Quando o li, andava às voltas com a fé que balançava, com as primeiras leituras de Nietzsche e Sartre, com as ansiedades cotidianas e a solidão entre iguais. Eu “puxava angústia” todos os dias, na calçada da rua, com os amigos, como Eduardo Marciano, alter ego do próprio escritor. A vida me doía, sem saber direito onde doía.
Me lembro de uma inquietação funda, amarelada, sem desespero, de quem percebe que o tempo passa, os amigos passam, os amores passam, mas alguma coisa sobrevive para ter saudades e contar toda a história a quem ficou, a quem chegou mais tarde, a quem chegará. O Encontro Marcado é a suma desse período, é um diário romanceado. É um livro-amigo.
Vamos puxar angústia? Senta aí.