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Virei feminista por causa do Lula
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Lula deu o ar de sua desgraça para nos matar a saudade de Dilma Rousseff. Que a economia fosse para o beleléu como estava indo, eu aceitava; mas que tenhamos um presidente chato e todo sério até na maneira de se corromper, não admito. Dilma foi a mais talentosa humorista que o país já teve; Temer não lhe chega aos pés. Na falta dela, temos ele.

Pois o ex-presidente e atual condenado garantiu que estamos “lidando com um ser humano diferente”. Folgo em saber. Desde o primeiro dia de mandato do Lula eu andava na rua, desesperado, abordando as pessoas com a loucura estampada nos olhos: “Eu não sou o Lula, viu?, acredite em mim: eu não sou o Lula!”

Fazer parte da mesma espécie do Lula já é o tipo de coisa que pode enlouquecer um homem; ser confundido com o Lula seria desonra capaz de inspirar suicídios à maneira de samurais. Agora, graças a Deus, o próprio veio definitivamente garantir: ele é diferente de todos nós, ele é diferente de mim.

Posso dormir, posso morrer em paz.

*

É preciso reconhecer que Lula provoca efeitos, calafrios e iluminações que buda nenhum suspeitaria. Ele disse outra coisa muito interessante: “Eu não sou eu, eu sou a encarnação de um pedacinho de célula de cada um de vocês.” Senti um panteísmo nessa declaração, coisa de filósofo dos bons.

Não sei o que Lula anda deixando de ler. Também não sei que tipo de estupefaciente o excelentíssimo tem usado, mas confesso: as portas da percepção me foram escancaradas depois de ler isso, e eu virei feminista. Mais: virei feminista daquelas bem brabonas mesmo, que abortariam até o bebê-boneca da boneca das crianças.

Pensem comigo: Lula disse que é um amontoadinho de células. Aceito a premissa. Se ele faz questão, estou com ele e não abro. Lula, a vida de Lula, a língua solta de Lula, as inconsequências de Lula, tudo não passa de um amontoado de células, um monte de pedacinho de células. Nem gente é, direito. Se Lula afirmou com tanto orgulho ser “a encarnação de um pedacinho de célula” do corpo de todos nós, do meu corpo, então declaro: “Meu corpo, minhas regras”, Lula.

Já viu o que acontece.

 

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