Semana passada estive em duas mesas de Conferência/Debate no IX Simpósio de Pesquisa em Artes da EMBAP.
Na quinta-feira, dia 23, tivemos os professores Silvano Baia, da UFU e Allan Oliveira, da UNIOESTE, na mesa “Musicologia, História e Ciências Sociais: tensões no campo dos estudos da música”, mediada pelo professor Fabio Poletto, da EMBAP.
O prof. Silvano Baia fez seu doutorado em História na USP, pesquisando as teses e dissertações sobre música popular brasileira. Na mesa da semana passada, ele traçou um panorama da constituição dos espaços acadêmicos de pesquisa em música, e discutiu porque a música popular normalmente tem dificuldade de ser reconhecida nestes espaços. Um campo de estudos que fica em algum não-lugar entre a musicologia clássica, dedicada à música de concerto europeia, e a etnomusicologia, dedicada à música “étnica”.
O professor Allan Oliveira fez seu mestrado e doutorado em Antropologia na UFSC, pesquisando os violeiros e o campo da música sertaneja. Em sua fala, destacou a dificuldade em trazer certos temas da música popular para o centro das discussões na área de Ciências Sociais.
Após as falas dos conferencistas se abria o espaço para os debates, e as mesas terminam, obviamente, por causa do horário, pois a vontade era continuar discutindo madrugada adentro.
Tivemos ali um privilegiado espaço para repensar e discutir lugares sociais e representações através da música, e as dificuldades que temos em perceber e estudar isso na pesquisa acadêmica, muitas vezes guiada por noções engessadas de alta cultura e valor artístico. Os questionamentos propostos nesta mesa nos fizeram pensar profundamente e, quem sabe, tenham o condão de redirecionar algumas trajetórias, ou ao menos nos obrigar a refletir sobre temas relativos às músicas populares mediatizadas, e aos critérios que normalmente usamos para excluí-las do nosso campo de visão como estudiosos e professores.
No dia seguinte, sexta-feira, aconteceu a mesa “Arte e Políticas Públicas”, com a presença de Ulisses Galetto, doutor em História pela UFPR e eu, André Egg, professor da FAP, com mediação da professora Elizabeth Prosser, da EMBAP.
Ulisses Galetto apresentou uma reflexão sobre o assunto de sua tese recém defendida: as políticas de incentivo à cultura por meio de renúncia fiscal. Mostrou um panorama das ações no Brasil e um comparativo com a forma como a renúncia fiscal é usada em outros países. De tudo o que ele falou, o que mais me chamou à atenção foi o dado de que o Brasil é o único país do mundo onde o patrocínio de empresas via renúncia fiscal é feito 100% com recursos públicos. Ou seja, as empresas apenas decidem a alocação da verba pública, sem precisar colocar nenhum centavo em recursos próprios.
Infelizmente ainda não deu tempo de a burocracia colocar no ar o pdf da tese, mas eu estou de prontidão para ler, assim que a Biblioteca da UFPR tiver online o documento.
Após a fala de Ulisses Galetto, eu fiz um panorama histórico de políticas públicas para música no Brasil, com alguns momentos chave: a política e as instituições durante a monarquia, as reformas que resultaram no Instituto Nacional de Música com a chegada da República e as propostas parcialmente implantadas dos modernistas no período varguista. Fiz ainda um pequeno comparativo com a situação das políticas públicas do Governo Roosevelt nos EUA dos anos 1930-40.
Também tivemos o debate após as falas, e uma interessantíssima discussão que precisa ser ampliada, afinal, o que dá pra perceber é que temos no Brasil uma longa tradição de políticas elitistas e mal pensadas, somando-se agora a um sistema que tem dinamizado significativamente as produções, mas que precisa urgente de uma discussão capaz de otimizar o uso de recursos públicos.
Um pouco dessa discussão eu também fiz em um texto em minha página pessoal, refletindo sobre minha participação na Comissão de Música do Mecenato da Fundação Cultural de Curitiba (neste link).
Teve muito mais coisa interessante no Forum, mas obviamente eu não consegui acompanhar tudo, nem caberia aqui o espaço para um comentário tão extenso.
As duas mesas em que pude participar/assistir me deixaram bastante esperançoso quanto a uma necessária renovação na academia em Curitiba, trazendo um maior diálogo da área de música com as áreas mais maduras das Ciências Humanas e, principalmente, a possibilidade de formar massa crítica capaz de otimizar a relevância social das nossas pesquisas. Como efeito colateral disso tudo, a possibilidade de que a área de música na academia tenha condições de ocupar melhor os espaços de reflexão e de influência na esfera pública.
Deveria ser esse o papel da Academia: um centro de reflexão avançada com formação de conhecimento capaz de embasar ações, políticas públicas e avanço social. O IX Forum contribuiu significativamente para superarmos nossas limitações (principalmente de estrutura e recursos, mas também de mentalidade) e avançarmos neste sentido.
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