Hoje tem concerto comemorativo do aniversário da Orquestra Sinfônica do Paraná.
Fundada em 1985, época em o governador do estado era José Richa, a Orquestra vem mantendo um histórico notável de contribuição à vida cultural do país. Afinal, como imaginar uma capital da importância de Curitiba sem uma orquestra oficial?
Mas a cidade vivia bem sem isso até 1985. A criação da orquestra foi resultado da batalha de muitos que consideravam indispensável um corpo sinfônico na vida de uma cidade importante e que se queria progressista.
Na verdade, Curitiba já tinha um histórico de protagonismo na vida musical, e a fundação da OSP foi resultado pelo menos de uma série de outros eventos que vinham colocando a cidade no mapa desde os anos anteriores.
Curitiba foi sede dos Festivais de Música do Paraná, que encerrou as atividades na década de 1970, e que trazia grandes eventos musicais para a cidade.
Curitiba também já era sede das atividades da Camerata Antiqua, um conjunto pioneiro no Brasil para a execução de música antiga (ou seja, grosso modo, aquela anterior à morte de Bach em 1750).
Desde 1983 Curitiba passou a sediar a Oficina de Música de Curitiba, a princípio um curso de férias organizado com a coragem dos integrantes da Camerata, mas que atraiu professores entusiasmados de vários lugares do Brasil.
O sucesso das Oficinas de Música levantou mais seriamente a questão: como uma cidade como Curitiba não tem orquestra?
O governo estadual tomou a peito a situação e fundou seu corpo estável, abrindo concurso para o preenchimento de vagas. O concurso atraiu diversos músicos importantes de outras regiões do Brasil, que se transferiram para Curitiba em busca de um trabalho estável e culturalmente relevante. No momento de fundação da Orquestra, as demais cidades do Brasil viviam numa espécie de entressafra cultural, o que permitiu à OSP assumir um protagonismo inusitado para uma cidade acanhada como Curitiba.
De imediato, a principal conseqüência foi trazer de volta à cidade o principal músico da terrinha: o maestro Alceo Bocchino, que vivia desde a década de 1940 no Rio de Janeiro. Ele era um dos músicos mais destacados do país, tanto como pianista, que ficou notório principalmente pelo seu trabalho no Trio da Rádio MEC, que fez gravações históricas e concertos importantíssimos. Como também como maestro e, principalmente professor. Quem teve o privilégio de estudar com ele na UFRJ se lembra com saudades de um dos grandes regentes brasileiros.
Bocchino passou a reger a Orquestra Sinfônica do Paraná, e com ela fez um belo trabalho enquanto as condições físicas permitiram. Com o avanço da idade, Bocchino foi regendo cada vez menos. Afinal, quando foi designado maestro titular da OSP, ele já estava entrando pelos 67 anos de idade.
Outra grande figura figura que foi atraída para Curitiba por causa da OSP foi Osvaldo Colarusso. Então regente do Coro do Teatro Municipal de São Paulo, Colarusso era um jovem maestro com brilhante formação, tendo interrompido seu curso superior em São Paulo para estudar com Michel Philipot na França.
Por coisas que só acontecem no Brasil, a formação obtida na França não pode ser reconhecida com um diploma universitário no país. Mesmo assim, Colarusso mudou-se para Curitiba e, além do trabalho como maestro na OSP, que foi assumindo cada vez mais à medida que Bocchino regia cada vez menos, também tornou-se um importante professor na cidade.
Na Escola de Música e Belas Artes do Paraná Colarusso lecionou por “notório saber”. Até o momento em que nem mesmo essa possibilidade foi aceita. Os que tiveram o privilégio de assistir suas classes na EMBAP foram premiados com uma sólida formação.
Impedido de lecionar no principal centro de formação de música “clássica”, Colarusso continuou sendo um importante professor em aulas particulares, oficinas e festivais.
Por motivos que não acompanhei de perto, nem seria capaz de explicar, em algum momento a relação do maestro com a OSP ficou abalada, resultando no seu afastamento da condição de maestro.
Hoje Colarusso contribui com o estado principalmente através dos programas que apresenta na Rádio Educativa (97.1 FM).
O concerto que a Orquestra fará hoje tem alguns méritos inegáveis: ao comemorar 27 anos, a orquestra está de novo em um bom momento, em ascensão. Coisa que não acontecia desde que Colarusso foi condenado ao ostracismo na vida musical da cidade.
A temporada 2012 está muito bem construída, e coloca novamente a OSP no mapa do Brasil. Agora, ao contrário de 1985, outras orquestras do país estão em grande momento, e a OSP não se beneficia mais de um baixo nível da concorrência. Terá que mostrar seu valor em meio a várias grandes orquestras que se articularam ao redor do Brasil nos últimos anos.
O concerto desta noite tem todas as qualidades para a celebração: uma das peças concertantes mais empolgantes do século XX, o Concierto de Aranjuez do compositor espanhol Joaquin Rodrigo, solado por um dos melhores violonistas do mundo na atualidade: o paulista Fábio Zanon; uma das grandes obras sinfônicas do início do século, o poema sinfônico La mer (“o mar”) de Claude Debussy; e ainda, uma deliciosa peça do compositor curitibano Rogério Krieger, que também é músico da orquestra.
Tudo perfeito para uma imperdível noite de gala em comemoração ao aniversário da orquestra. Só falta mesmo uma coisa: quem deveria reger este concerto é o maestro Osvaldo Colarusso.
Me parece que se dependesse de Osvaldo Ferreira isto já estaria feito. O único impedimento é a recusa de alguns músicos da orquestra em tocar sob a batuta do antigo maestro. Pouco importa à cidade as intrigas de bastidores que indispuseram parte da orquestra com o maestro Colarusso. É completamente insano que um maestro do nível dele não possa subir ao pódio da orquestra que ajudou a fundar e regeu com brilhantismo por muitos anos. Se o tempo dele como maestro titular já passou, e Osvaldo Ferreira faz um trabalho de inegável qualidade, por outro lado, não ter Colarusso no pódio é uma coisa inaceitável para Curitiba.
Podíamos desde já começar a pensar nisso para os 28 anos da orquestra, não?
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