Na última quinta-feira, o Conservatório Villa-Lobos de Curitiba completou 30 anos, e realizou um concerto comemorativo no Guairinha.
Eu estive lá, junto com outros ex-alunos convidados a integrarem uma orquestra de violões que fez o melhor possível – imagine a dificuldade de conseguir horários de ensaio que todos pudessem, além da complexidade de juntar violonistas ativos e outros completamente fora de forma como eu.
Superados os atropelos com as escalas rápidas do Concerto de Vivaldi, acho que ficou bonita mesmo a Valsa da despedida, de André Prodóssimo.
O concerto teve outros grandes momentos: começando com um conjunto de violões com adolescentes da Vila Audi, que tocaram um arranjo de Jingle Bells. Acontecimento muito importante para nos lembrar que o ensino de música no Brasil continua um privilégio de quem pode pagar uma escola de música, exceto quando algum músico dedicado (como é o caso do Valdomiro Prodóssimo) se propõe a realizar um projeto social.
Entre os muitos momentos mágicos da noite, o conjunto Harmonia, integrado pelos 6 irmãos Soares de Souza. Uma transcrição da Bachiana nº 5 de Villa-Lobos para harmônica, bandolim, violão, teclado, pandeiro e violoncelo – em belíssima execução. Funcionou como uma dupla homenagem: à obra do maior compositor brasileiro, cujo nome sela a dignidade do trabalho musical realizado pelo Conservatório nestes 30 anos. E ao maestro e professor João Soares de Souza, de Minas Gerais, já falecido. Pai dos seis músicos que integraram o conjunto, o maestro João Soares de Souza foi fundador e diretor de importantes Conservatórios estaduais em Minas Gerias, como o de Pouso Alegre e Ipatinga. E foi também o grande incentivador do trabalho de sua filha Jane Soares de Souza Prodóssimo, que transferiu-se para Curitiba para fundar junto com seu marido o Conservatório Villa-Lobos.
Eu fui aluno de teoria musical da profª. Jane, e dentre as muitas bagagens que levei para a vida musical, uma sólida formação em percepção e solfejo, estudado no método do maestro João Soares de Souza, que a profª. Jane sempre aplicou com carinho e precisão.
Mas acho que os maiores momentos foram os protagonizados por alguns grandes instrumentistas que mostraram porque Valdomiro Prodóssimo é um dos grandes professores de violão deste país.
Muito antes de 1981, quando começou o Conservatório junto com sua esposa Jane, o Valdomiro já era professor de violão, tanto em Curitiba como em Joinville, tendo um importante papel na formação de uma escola violonística em ambas as cidades.
Aluno de Jodacil Damasceno, Valdomiro foi reputado pelos que o viram tocar como um violonista de som magistral, grande técnica e interpretação soberba.
Eu não tive este privilégio, porque quando comecei a estudar no Conservatório, em 1985, Valdomiro já sofria de um problema muscular no dedo médio, que o impedia de seguir atividade como concertista.
Talvez tenha sido uma providência do destino, pois um concertista ativo não teria possibilidade de trabalhar tanto na condução dos seus alunos.
E o Valdomiro foi e é daqueles mestres como poucos – que tem a paciência de começar com um aluno que nunca segurou o instrumento, e conduzi-lo por anos de trabalho dedicado até formar e talhar um músico de alto nível.
E três grandes violonistas estavam no palco do Guairinha nesta quinta-feira, 8 de dezembro. Três gigantes do violão, que passaram pelas mãos de Valdomiro Prodóssimo, e tiveram sua condução segura em momentos importantes de sua formação.
O primeiro foi Luiz Claudio Ribas Ferreia. Um dos primeiros alunos do Conservatório Villa-Lobos, Luiz Claudio começou a se destacar já na década de 1980 quando venceu importantes concursos do instrumento e realizou sua primeira gravação.
Hoje Luiz Claudio é professor da EMBAP, onde tem formado novas gerações de grande talento. Vem driblando um grave problema de distonia, e retomando a atividade de concerto. Além de nos brindar com gravações primorosas, como esta que resenhei aqui.
Do novo disco que vai lançar em breve, Luiz Claudio tocou um Tango de Máximo Pujol – belíssima peça, onde o violonista mostrou toda sua segurança, grande precisão, conhecimento musical profundo que o capacita a destacar com exatidão os elementos musicais mais importantes de uma obra. E sobretudo aquela qualidade que o Valdomiro imprime desde cedo em seus alunos – uma sonoridade profunda e grandiosa, coisa das mais difíceis de se obter no violão.
Além do Luis Claudio, outro grande aluno do Valdomiro se apresentou: Davi Tavares, que saiu das classes do seu mestre em Curitiba para seguir carreira na Espanha, onde se instalou há décadas. Davi Tavares pouco vem a Curitiba, o que é um problema que precisamos resolver com urgência. Tenho escrito em algumas críticas que Curitiba precisa aproveitar os talentos seus que estão pelo mundo.
Davi Tavares trouxe dois CD’s gravados na Espanha, um deles felizmente tem sido tocado pela Rádio Educativa. Entre as belas coisas que ele apresentou na noite de quinta-feira, estava sua composição Ojos negros, que pode ser vista neste vídeo em gravação profissional:
O segundo violão, foi tocado na quinta-feira por André Prodóssimo – filho do Valdomiro. Esse nasceu em meio aos violões, e cresceu sob a batuta do mestre e pai. Não poderia mesmo dar em outra coisa – se tornou um grande violonista, em fase de afirmação na carreira, mas já se destacando como alguém que não deve nada para os grandes talentos do violão brasileiro atual.
Acredito que é por aí que a gente reconhece o trabalho dos grandes mestres: o resultado apresentado por seus alunos. E disso o Valdomiro e a Jane podem se orgulhar como poucos.
Além destes grandes músicos de expressão profissional incontestável, há uma lista que não termina de grandes pessoas que tiveram sua formação musical nas mãos do Valdomiro e da Jane, e que estão trabalhando como músicos, professores, regentes de coral, entre outras coisas. (João Egashira, Bernardo Grassi, Indioney Rodrigues, Carlos Todeschini, para ficar apenas nos que eu conheço melhor.)
Maior do que tudo isso, são os inúmeros alunos que estudaram ali no Conservatório, e nunca quiseram trabalhar profissionalmente com música – simplesmente levaram sua formação musical como seres humanos dotados de sensibilidade, uma coisa que certamente faz muita falta no sistema educacional brasileiro, e que só aumenta o significado do trabalho destes dois grandes professores.
Deixo aqui minha homenagem a estes dois grandes nomes: Valdomiro Prodóssimo e Jane Soares de Souza Prodóssimo, batalhadores incasáveis da formação de tantos músicos, remando contra a maré de um país onde a cultura e a educação ainda são tão menosprezados.
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