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O maestro português Osvaldo Ferreira veio para Curitiba em 2011 para assumir a Orquestra Sinfônica do Paraná como regente titular. Ele já tinha vindo à cidade outras vezes pois era diretor artístico da Oficina de Música de Curitiba.

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Sua chegada definitiva como maestro radicado na capital paranaense vinha na esteira da mudança de governo. Tinha saído o governador Roberto Requião, que durante os 8 anos de seus dois mandatos tinha transformado a nossa orquestra numa pálida sombra do que já tinha sido nos seus melhores momentos.

Não que nossa orquestra tivesse sido já alguma coisa perto de uma grande orquestra. Mas tinha sido uma orquestra boa, que cumpria seu papel de corpo estável em um estado de segunda linha na federação brasileira (mais ou menos populoso e rico, embora muito atrás de São Paulo, Rio e Minas – ou mesmo Rio Grande do Sul e Bahia, em cacife financeiro e político e tradição cultural). Pelo menos é a impressão que se tinha dos tempos de sua fundação no governo José Richa, e uma continuidade mantida a duras penas nos governos Alvaro Dias e no primeiro Requião (1991-94). Naqueles tempos a orquestra tinha boa programação, a regência era muito bem desincumbida pelo titular Alceo Bocchino e pelo assistente Osvaldo Colarusso, e chegamos a ter apresentações frequentes de balé e ópera.

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Neste blog já escrevi um pouco sobre nossa orquestra por ocasião do seu 27º aniversário:

Os 27 anos da Orquestra Sinfônica do Paraná

Nos 16 anos entre o fim do primeiro Requião, a passagem por JaimeLerner (1995-2002) e a segunda era Requião (2003-2010) a orquestra foi passando por uma longa e agônica decadência, marcada pela falta de programação fixa, e em muitos momentos a falta de um regente regular. Mais ou menos pela mesma época a Camerata Antiqua de Curitiba também acabou abandonando a figura do regente fixo, sem que isso resultasse em prejuízo para a orquestra (para o coro é outra conversa) – pois a programação era mantida com ensaiadores locais e regentes convidados.

O fato é que não ficaram grandes lembranças da Orquestra Sinfônica do Paraná no período em que o nosso estado oscilou entre entre o liberal Jaime Lerner e o esquerdista Roberto Requião (4 mandatos, dois seguidos de cada um, entre 1995 e 2010). Isso prova que a boa gestão da cultura não esteve em nenhum dos extremos da nossa polarização político ideológica de província.

Quando o Osvaldo Ferreira chegou, encontrou um grupo desmoralizado, no sentido de que tinha bons músicos, mas cujo trabalho não era respeitado profissionalmente, artisticamente nem financeiramente. Some-se o fato de as relações entre os músicos e o maestro também não tinham um bom histórico, pois foram desavenças entre um corpo estável e um maestro idem que levaram ao afastamento de Osvaldo Colarusso para outras funções no Estado, uma vez que a orquestra chegouao ponto de recusar-se a tocar com ele no pódio.

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A missão não era coisa simples. Em primeiro lugar, é preciso pensar no confronto de mentalidades políticas e culturais que seria sofrido pelo novo maestro. Osvaldo Ferreira vem de um país pequeno da Europa, um continente onde a vida sinfônica é muito mais significativa do que deste lado do Atlântico. Afinal, Portugal é comparável ao estado do Paraná em população e extensão territorial, mas possui mais de uma dezena de boas orquestras muito ativas. A programação sinfônica de Lisboa, por exemplo, só tem comparação, no Brasil, com São Paulo ou Rio de Janeiro – e é uma capital com cerca de 700 mil habitantes.

Ou seja, além da dificuldade de se aculturar em um país e uma cidade muito diferentes (dizem que a língua é a mesma, mas as diferenças são grandes até neste aspecto – basta lembrar que o candidato José Serra não entendia as perguntas dos repórteres quando saía do seu estado natal nas eleições de 2010), tinha a abissal diferença do valor cultural que têm as orquestras lá e cá. Imagino que talvez haja alguma diferença, aí já não tão grande, entre o nível técnico dos músicos.

Superando estas dificuldades todas, Osvaldo Ferreira se impôs desde logo pela qualidade do seu trabalho, e ganhou para si e para a orquestra o respeito que tal aparato merece em uma cidade ou estado que se prezem.

Eu assisti com muito prazer o primeiro concerto, e publiquei uma crítica no blog que eu mantinha na época:

A estréia de Osvaldo Ferreira com a Sinfônica do Paraná: Guarnieri, Tchaikovsky, Beethoven

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Pra resumir a história pra quem não tiver paciência de seguir todos os links que eu vou colocar neste texto, o concerto mereceu destaque positivo pela escolha da Abertura Festiva de Camargo Guarnieri, uma peça brasileira moderna mais recente, e os clássicos Concerto para violino de Tchaikovski e Terceira sinfonia de Beethoven. Além de inteligente escolha de repertório, Osvaldo Ferreira revelou imediatamente sua capacidade como ensaiador, sua técnica de regência, sua cultura musical. E mais do que isso, mostrou que os músicos estavam com ele.

Mas melhor ainda que o concerto em si, foi sair do Guaíra levando um caderno da programação anual da orquestra. Uma coisa que eu acho que nunca tinha tido, pelo menos eu não me lembro. A Camerata já fazia isso em Curitiba faz um tempinho. Orquestras importantes em outros lugares do Brasil e do mundo fazem isso normalmente, ou melhor, é difícil explicar pra alguém acostumado com vida sinfônica como uma orquestra pode não ter programação anual.

Pois é, a OSP não tinha. E Osvaldo Ferreira fez uma bem rápido. E era muito boa. Ao menos era o melhor que se podia fazer com as condições que se apresentavam na ocasião e o histórico recente da vida cultural paranaense. (Agora estou em dúvida se a programação saiu mesmo no primeiro concerto ou foi depois. Acho que foi depois, pois eu publiquei só em julho meu comentário, que estava num blog antigo, depois foi republicado em outro)

A programação 2011 da Orquestra Sinfônica do Paraná

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Pra mim o destaque ficava por conta do equilíbrio entre compositores brasileiros (sempre presentes), música europeia do século XX (quase sempre presente), bons solistas e maestros convidados, e ótimo repertório clássico. Ficavam faltando as coisas que dependiam de programação mais antecipada, melhor capacidade técnica da orquestra e da equipe do Teatro Guaíra e maiores recursos. Por exemplo, faltavam estreias e/ou encomendas de obras, faltavam as grandes obras mais ousadas do repertório, e faltava sobretudo ópera e balé.

Nada que se pudesse culpar o maestro. E veio o segundo concerto, que eu também assisti e escrevi crítica, desta vez publicada na Gazeta do Povo e complementada no meu blog, por causa da falta de espaço para textos mais desenvolvidos no jornal impresso.

Um concerto de altos e baixos

Osvaldo Ferreira e a Sinfônica do Paraná: Dottori, Schumann e Tchaikovisky

Pra resumir a história, a peça do Dottori foi muito boa, e mereceu uma menção especial por ser coisa bem recente de um compositor que mora na cidade. A gente precisava (e continua precisando) ver a orquestra fazer mais isso. Também foi ótima a sinfonia do Tchaikovsky, mas foi meio atrapalhada a escolha e a execução do concerto do Schumann. Ainda não sei se quem escolheu a peça foi o maestro ou a solista, mas ela é difícil de sair bem, tanto pela dificuldade técnica para o pianista, para o entrosamento do conjunto e, principalmente por não ser bem resolvida em termos de orquestração.

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Depois disso, não vi mais nenhum concerto regido pelo Osvaldo Ferreira no ano. Só vi a OSP com outros maestros, provando que foram muito boas as escolhas do diretor artístico, tanto de repertório como de convidados.

E então veio o anúncio da programação da segunda temporada da OSP com Osvaldo Ferreira à frente. Seria a primeira que o maestro teria preparado com suficiente antecedência, mas continuaria marcada pelas mesmas dificuldades que a equipe do Guaíra e o Governo do Estado pareciam não ter mesmo interesse político em resolver. Continuou sendo uma temporada limitada por uma série de ausências e falta de recursos, embora parecesse que as coisas estavam melhorando de algum modo, com o anúncio de ao menos dois programas mais ousados em termos de produção: a Sinfonia nº 2 de Mahler e a Sagração da Primavera de Stravinski.

A seguir, o texto que escrevi na época, sobre a programação, e a matéria feita pela Gazeta do Povo:

A temporada 2012 da Orquestra Sinfônica do Paraná

Progredindo dentro de velhas limitações

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A realização da Sagração seria realmente um grande feito, talvez dos maiores da história da OSP e do Balé Guaíra. Mas a ótima execução da Sinfonia Ressurreição de Mahler ficaria um pouco eclipsada pela polêmica em torno do uso de um coro de voluntários para realizar a obra. Apesar de ser muito bom o engajamento de um coro da comunidade numa realização artística desta envergadura, a questão é que o Teatro Guaíra deveria ter um coro profissional e não tem. Nem pretende ter. Com isso, o maestro teve que se virar com o que podia, melindrando bastante todo o pessoal que se mobiliza faz tempo para que o estado tome vergonha e crie um corpo estável, não nos moldes do antigo Coro do Teatro Guaíra, que era feito sob relações financeiras e trabalhistas muito precárias.

Mas vejam o que escrevi na época sobre o concerto de Páscoa:

Osvaldo Ferreira e a Sinfônica do Paraná: a Sinfonia nº 2 de Mahler

Um pouco depois de um concerto tão intenso veio outro bem mais leve. E apesar de eu reclamar um pouco de coisas mais leves, talvez seja uma grande sabedoria do maestro equilibrar-se assim entre os vários tipos possíveis de público. Afinal, ele não trabalhava apenas para o ouvinte mais especializado e empolgado com a vanguarda (meu caso), mas tinha que atender aos interesses de uma população muito mais vasta que paga os impostos.

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Escrevi uma crítica também sobre este outro concerto:

Osvaldo Ferreira e a Sinfônica do Paraná com Fábio Zanon: Krieger, Rodrigo e Debussy

Neste ano também teve muita coisa que não assisti, e depois veio a tão esperada Sagração. Saiu a seguinte matéria na Gazeta do Povo:

Um ritual pagão em pleno Guaíra

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E foi assim a crítica que escrevi:

A Sagração da Primavera de Olga Roriz com o Balé Guaíra e a Sinfônica do Paraná

Pra resumir bem a coisa – foi uma das grandes experiências estéticas da minha vida ouvir esta peça ao vivo (eu já tinha ouvido muito em gravações) – numa ótima execução.

Eu não fiz crítica de mais nenhum concerto regido pelo maestro neste ano. Mas teve outras coisas que mereceram destaque na programação: o maior espaço para atuação do regente assistente, Márcio Steuernagel, que comandou uma programação de clássicos mais leves apresentados em igrejas, e que também regeu um concerto inteiro só de compositores curitibanos contemporâneos (Maurício Dottori, Harry Crowl de Flíblio Ferreira de Souza). Esse concerto foi no Teatro da Reitoria, e foi outro dos grandes momentos da OSP (exceto pela peça do Flíblio, que ganhou o concurso de composição em 2011 e que até hoje eu não sei se tem problemas de escrita como o Schumann do Concerto para piano ou se é só má vontade da orquestra com a linguagem muito complexa da escrita instrumental).

Além disso, merece destaque especial a altíssima qualidade da programação infantil desenvolvida (assisti alguns concertos desses com a família, e descobri que o Osvaldo Ferreira é ótimo com os figurinos também).

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Foi ainda um momento muito mágico a música do filme de Lotte Reiniger, mas esta foi com regente convidado.

Outro destaque do ano de 2012 foi que a OSP chegou a ser notada pela mídia especializada de alcance nacional. A nossa orquestra foi mencionada numa reportagem da revista Concerto sobre a subida recente do nível da vida sinfônica no país, e a Orquestra Sinfônica do Paraná apareceu entre as orquestras notáveis do país, sendo Osvaldo Ferreira um dos entrevistados. Na ocasião ele ousou colocar a orquestra num nível talvez maior do que ela realmente estivesse, e eu comentei isso um pouco neste texto:

Orquestra Sinfônica do Paraná é uma das 5 melhores do Brasil?

O fim do ano de 2012 começou a revelar um pouco dos gravíssimos problemas que começariam a ficar frequentes na administração do Teatro Guaíra, e que acabariam culminando com a saída do maestro Osvaldo Ferreira ao final do ano seguinte.

Sem explicações, foi cancelada a vinda do compositor Penderecki, que estava programado para reger o último concerto do ano, que previa, entre outras obras ousadas, a estreia de uma peça que estaria sendo escrita por Márcio Steuernagel. Se tivesse acontecido conforme o programado, teria sido provavelmente o músico mais importante do mundo a pisar a nossa cidade, e certamente seria outro momento para entrar para a história da OSP.

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Ao contrário, foi o começo de uma história de desencontros, que acabou com a impossibilidade de continuidade da ótima parceria Osvaldo Ferreira / OSP.

Em 2013 a coisa foi ficando bem pior, com mais notícia ruim ao longo do ano. A primeira coisa foi que o Teatro Guaíra nem se deu ao trabalho de imprimir um caderno de programação, e sequer tinha uma divulgação minimamente decente no site. O público ficou sabendo das coisas pelo esforço pessoal do maestro, e a programação saiu em matéria do jornal Gazeta do Povo:

A temporada 2013 da OSP

Esta matéria teve algumas opiniões minhas, dadas em conversa com o repórter Rafael Costa, que aliás, fez sempre boas matérias sobre a orquestra durante todo o período de Osvaldo Ferreira. Em linhas gerais, o que eu disse pra reportagem foi que a programação era pior que a dos anos anteriores, e demonstrava nitidamente a falta de investimento financeiro – condição necessária para uma programação melhor. Era mais ou menos como se o Governo estivesse dizendo que não concordava com esse negócio de ter uma das 5 melhores orquestras do Brasil, que isso era coisa de um maestro metido a querer colocar Curitiba e o Paraná onde nunca pretenderam ficar.

O descaso da direção do Teatro Guaíra com a divulgação da programação talvez já significasse que eles tinham intenção mesmo de “dar o bolo” no público da orquestra. Ou talvez eles não concordassem com as coisas que o maestro pretendia, porque realizar programação sinfônica gasta dinheiro, e o Governo do Paraná tem dinheiro pra outras coisas mas não pra isso. (Na verdade ficou sem dinheiro pra quase tudo que importa em 2013, como mostraram fartamente diversas reportagens do jornal.)

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Um dos motivos do atropelamento com a divulgação da programação foi que o Teatro Guaíra esperou ver que datas ia alugar o teatro para formaturas para só depois confirmar a programação que estava definida havia meses. Imagina os regentes e solistas convidados esperando pra fechar agenda por causa de um motivo desses. Sim, o negócio é esse mesmo que você está entendendo – o Governo do Paraná decidiu que era mais importante alugar o principal teatro do estado para formaturas do que reservá-lo para a programação da orquestra estadual.

Quando ficou evidente que a orquestra estava ficando para escanteio em sua própria casa, começou-se a discutir a reforma de outro espaço para servir de sede. Comentei o assunto neste texto:

O Centro de Convenções de Curitiba resolve o problema da Orquestra Sinfônica do Paraná?

O Governo do Estado abortou dessa ideia assim que soube quanto custaria a reforma. E olha que em nenhum momento se pensou em nada parecido com uma “Sala São Paulo”.

Mas antes desse imbroglio a orquestra já tinha feito um ótimo concerto que marcou novamente um grande momento da história. Foi o concerto em homenagem aos 85 anos de Edino Krieger, que foi convidado e esteve presente. No que dependia do maestro e dos músicos, a orquestra seguia marcando a história da Curitiba com grandes momentos. Esse foi o texto que escrevi logo após o concerto:

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Homenagem aos 85 anos de Edino Krieger: Osvaldo Ferreira e a Sinfônica do Paraná

Em 2013 eu fiz aquilo que sempre tentei fazer nos anos recentes: assim que saiu divulgada a programação, eu anotei na minha agenda (do google e do celular, que as de papel não consigo usar faz muito tempo) os concertos que pretendia assistir e escrever crítica. Não tenho tempo de ver tudo por excesso de atividades profissionais (este blog mesmo é feito no pouco tempo livre que aparece) então seleciono sempre as coisas que prometem ser mais marcantes. Em geral aquelas obras que a gente precisa ouvir ao vivo um dia na vida, ou coisa nova que a gente quer saber se vale a pena. No mais, o repertório batido já é coisa que a gente está muito bem servido num mundo com onipresença de música gravada em tudo que é lado.

Alguns concertos que eu queria ter visto eu perdi por culpa minha mesmo. Mas quando foi chegando outubro e eu vi que conseguiria ir na data prevista pro Requiem de Verdi, fui conferir os horários na programação da Gazeta ou no site do Guaíra e não tinha nada não. Não tinha nada mesmo. Nem concerto nem explicação nenhuma sobre seu cancelamento. Do mesmo modo foram cancelados sem aviso ou explicação os dois concertos previstos para dezembro. A única explicação que a gente pode imaginar é que o dinheiro acabou antes do ano, e a programação foi pras cucuias.

Acreditem se quiser, ainda tem gente que tentou colar a culpa no maestro, do tipo “ele gastou dinheiro demais em um concerto só, depois não sobrava nada pros outros” –  o que é um absurdo total porque estamos falando de uma programação divulgada no início do ano. Quer dizer – se o pessoal do Guaíra soubesse do que acontece nos seus próprios domínios, já devia ter dito em 2012 pro maestro que não dava pra fazer os concertos que ele pediu.

Se isso acontecesse, provavelmente o maestro teria saído antes, sem passar a vergonha de ver a programação cancelada com ele ainda levando a culpa que foi de gente que estava mais acima.

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Essas questões todas foram bem investigadas pela reportagem da Gazeta do Povo, que conversou com pessoas que conhecem a orquestra e deram boas opiniões em duas matérias. Uma por ocasião da saída do maestro, no final do ano passado, outra no anúncio do primeiro concerto deste ano:

Fim de ano com mudanças à vista

Um ano de transição

Em 2014 a orquestra começou sem regente fixo, mas com o anúncio de uma programação mínima que promete manter a coisa mais ou menos funcionando. Algumas coisas não podem ser boas sem regente fixo e direção artística competente: especialmente a parte que depende do trabalho contínuo para melhorar. Isso significa que em 2014 a OSP está condenada a uma certa estagnação, embora nada disso dê pra perceber ainda, e a gente não saiba pra onde a coisa vai caminhar em 2015.

Tudo que se tem por enquanto é que há uma comissão de notáveis que não está deixando a programação ficar vergonhosa, e vem escolhendo os melhores convidados possíveis. A prioridade vai para os regentes radicados no Brasil, por motivos financeiros, mas nisso aí não há nenhuma queda de qualidade pois os nomes anunciados são muito bons. O primeiro concerto já aconteceu e foi um grande sucesso do ponto de vista musical.

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O Concerto para flauta de Nielsen é uma obra muito interessante e foi muito bem feita. O Concerto para orquestra do Bártok é uma obra do nível da Sagração tocada em 2012 (sem o balé). A execução foi excelente, e alguém que olhe para o desempenho da orquestra só por este concerto vai dizer que está tudo uma maravilha.

Mas a OSP já provou, ao longo de sua história, que artisticamente sabe sobreviver ao descaso que lhe devotamos como público e como governo. Está muito acima disso.

E o que vai ser daqui pra frente não sabemos, mas nunca se apagarão as marcas das 3 temporadas com o Osvaldo Ferreira. Ele nos deu um vislumbre de programação séria e bem organizada, deu estabilidade e consistência artística ao conjunto que dirigiu, interagiu muito bem com a cidade e com a imprensa – e saiu daqui sem ter recebido o reconhecimento que mereceria pelo trabalho que realizou.

O concerto que, podemos dizer, marcou sua despedida como residente de nossa cidade, não foi com a Orquestra Sinfônica do Paraná, e sim com a orquestra de alunos da Oficina de Música de Curitiba que ele dirigiu (dirigiu ambos, o festival e a orquestra dos alunos). Não poderia ser uma despedida melhor, realizando com perfeição (mesmo com um conjunto amador) a peça sinfônica brasileira mais importante de todas (e certamente de difícil execução). Eu escrevi sobre esse concerto:

O concerto de encerramento da 32ª Oficina de Música

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Faço deste post minha homenagem e meu agradecimento ao maestro pelos serviços prestados em nossas terras. Ele nos deixou uma marca indelével, e a esperança de que possamos tê-lo trabalhando aqui no futuro, e da próxima vez em condições mais dignas. Se isso não puder ocorrer, certamente outros colherão resultados das sementes que ele aqui lançou, que ficarão por muito tempo.