Não é uma notícia tão nova, mas eu só vi agora. Ano passado o historiador norte-americano Robert Darnton veio ao Brasil e deu uma entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo. Ainda bem que eles colocam as entrevistas no youtube, assim eu pude ver. E os links para os videos estão ao final deste post se você tiver curiosidade de assistir também.
Darnton é um pioneiro desse negócio que a gente chama de História Cultural. Depois de ter sido jornalista (em uma família de jornalistas), tornou-se historiador, e dedicou-se à estudar a história francesa da era do Iluminismo.
Escreveu diversos livros, mas foi com O grande massacre dos gatos que se tornou mais famoso. Na verdade uma coletânea de textos, dentre os quais o que deu o título ao volume, aproveitando episódios de assassinatos de gatos para compreender a mentalidade de trabalhadores e homens comuns na França pré-revolucionária. Este livro foi publicado originalmente em 1984, e logo em seguida traduzido no Brasil.
Hoje encontra-se em 10 entre 10 listas dos livros fundamentais para entender as novas metodologias que guiam o trabalho de um historiador.
A partir de 1987 Darnton passou a ser publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras. Curiosamente, com o livro que em inglês tinha sido a publicação imediatamente anterior a O grande massacre dos gatos. Trata-se de Boemia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. De lá pra cá, a editora paulista vem mantendo o leitor brasileiro razoavelmente bem suprido de traduções da obra do historiador americano. O catálogo todo em português está nesta página.
Curiosamente, a historiadora Lilia Moricz Schwartz, editora da Companhia das Letras, esteve entre os entrevistadores do Roda Viva.
Mas o tema da entrevista de Darnton à TV brasileira girou em torno de sua recente atuação na criação de uma biblioteca digital de grandes proporções. A Digital Library of America é uma iniciativa da Biblioteca da Universidade de Harvard, da qual Darnton é diretor.
Isso está bem contado na entrevista, mas é interessante que a iniciativa de criar uma biblioteca aberta surgiu dos rumos tomados pelo serviço de livros do Google. Inicialmente, a gigante de Mountain View se beneficiou da colaboração das bibliotecas universitárias para digitalizar grandes coleções de livros, e criar um sistema de buscas em que você pode encontrar livros pesquisando por trechos de suas páginas. O serviço foi evoluindo para um sistema de livraria eletrônica, e o risco que se corre hoje é o de o Google usar esse acervo de forma paga e fechada. Afinal, a estratégia de negócios vem sendo essa: ofertar serviço gratuito para conquistar um público, e aos poucos passar a cobrar pelo serviço, à medida em que ele se torna essencial.
Devemos saudar então a preocupação de Darnton em criar alternativas que não nos tornem dependentes de algum monopólio de empresas tecnológicas. Essa questão ele trata bastante na entrevista, e é o tema de seu A questão dos livros – curiosamente, tem em versão kindle.
Seu último trabalho (mencionado na entrevista) foi escrito em 2010, e ainda não traduzido para o português. O mais recente em nossa língua é seu penúltimo livro – O diabo na água benta ou a arte da calúnia e da difamação de Luis XIV a Napoleão.
Então fica a dica: assistam a entrevista desse grande pensador, com reflexões sobre o futuro do livro, e sobre o trabalho do historiador. Tem também uma reflexão interessante sobre a importância dos arquivos de documentos de papel, e do aprendizado que isso proporciona aos pesquisadores. Esta questão, obviamente, foi matizada pelos entrevistadores brasileiros, trazendo o fato de que no Brasil a era digital chega atropelando um país que sequer entrou na era dos arquivos de papel.
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