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Falando em mitos…

…com um (quase dois) dia de atraso, um pouco sobre a “comemoração” dos 50 anos da Revolução Cubana.

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Antes, um trecho do blog Imprensa Marrom (que, infelizmente, está de despedida):

Ser contra a ditadura cubana é uma obrigação de toda e qualquer pessoa minimamente sensata e comprometida com a democracia; e isso vem antes dessa divisão pra lá de anacrônica entre ‘direita’ e ‘esquerda’. Apoiar um regime que mata opositores e não permite o voto é uma aberração inaceitável que suprime toda e qualquer discussão. Simples assim.

Há 50 anos que os habitantes de Cuba não têm o direito de viver numa democracia, com todas suas delícias e desgraças, mas com o direito de sofrer as conseqüências de suas próprias escolhas. A família Castro não tem esse direito.

E ser a favor disso, desculpem, não é “ser de esquerda”.

Ao ponto. Cito particularmente esse trecho porque é comum que, em se tratando de Cuba, as discussões se encaminhem para um embate típico de quem está defendendo um time de futebol. Nada faz menos sentido. Nesse caso, sempre achei que seria como se alguém, numa discussão entre palmeirenses e corintianos, passasse a defender o Miami Dolphins. Se você é comprometido com os valores democráticos, e assumo que os debatedores sérios, de todos os lados, são, então não há lógica alguma em defender o regime cubano. Mas, incrivelmente, há uma porção de gente por aí, que se diz de esquerda (e que causam muito mal à esquerda, diga-se), fazendo exatamente isso: falando das flores de Cuba.

A legitimação

Vejam o caso do nosso presidente. Quase no fim da ditadura, Lula foi preso pelo Dops depois de organizar uma paralização operária — a maior da história do sindicalismo brasileiro. Ao lado de Ulysses Guimarães e Franco Montoro (e outros), liderou o movimento Diretas-Já. Em 1986, elegeu-se o mais votado para a Assembléia Nacional Constituinte. Imaginar-se-ia que, com esse histórico, Lula fosse, para o resto da vida, um contudente crítico de qualquer ditadura.

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A questão aqui não é invadir Cuba e derrubar os Castro. Mas, no mínimo, não apoiar o governo cubano e, publicamente, enfatizar a necessidade de uma abertura democrática na ilha. Ou negociar algo nesse sentido. O governo brasileiro não faz nada remomatamente parecido com isso, muito pelo contrário. Visitou Fidel em Havana e, duas semanas atrás, recebeu Raúl, promovendo a integração de Cuba ao Grupo do Rio — ignorando a Declaração Sobre Defesa da Democracia, texto assinado pelos países-membros em 1997 e que visava “fortelacer a democracia nos países da região”.

(Outro exemplo da estima do presidente por governos ditatoriais: a África. Lula já visitou Burkina Fasso, elogiou a “democracia” do governo de Sassou-Nguesso e fechou acordos bilaterais com o angolano José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979).

Algumas possibilidades: 1) Lula não tinha a menor conscicência moral do que fazia quando lutou pela democracia e foi meramente levado pelas circunstâncias; ou 2) uma vez no poder, ignora solenemente seu passado em nome de um engajamento ideológico na política externa.

O embargo

A outra questão relacionada a Cuba que sempre vem à tona é o embargo americano. Essa política, que já deveria ter acabado há muito tempo, mas persiste graças a influência de uma porção de eleitores da Flórida, certamente não colaborou em nada para ajudar o povo cubano ou, se era o caso, derrubar Fidel do poder.

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Há quem considere que o fim do bloqueio não vai alterar muito a vida em Cuba. Megan McArdle: como boa parte do problema cubano é do lado da oferta, o fim embargo não faria muita diferença. Tornaria mais barato a exportação de alguns produtos por causa do custo de transporte (Flórida ao invés da Europa), mas o que é realmente necessário, uma disposição do governo em promover um mercado livre, ou mais livre, pelo menos, não deve ocorrer – El Comandante precisa manter o controle para não perder o poder.

De qualquer forma, o fim do embargo faria com que os defensores de Cuba tivessem que inventar uma outra desculpa para todos os males que assolam a ilha.