Só alguém que passou o último ano em férias sabáticas em Marte desconhece o resultado das eleições americanas ou não sabe que Ingrid Bettancourt vai muito bem, obrigada, e já não é mais uma refém das Farc. Essas foram, como se diz na Redação, “manchetes frouxas”. Há outras notícias, no entanto, que deveriam ter ganho mais destaque, mas acabaram ofuscadas por algum motivo. Pensando nisso, a revista Foreign Policy elabora todos os anos uma lista com as histórias mais importantes que você perdeu. A lista de 2008 saiu no domingo. Pois, vejamos:
1 – O “surge” no Afeganistão
Que aconteceu e funcionou no Iraque, todo mundo sabe. Bem mais silencioso, o aumento de tropas no Afeganistão, umas das promessas da campanha de Obama, também já está em andamento. Na primeira metade de 2008, o governo Bush aumentou em 85% o número de soldados no país. Aliado ao aumento de tropas, começou também um esforço da Otan para se aproximar de líderes locais e fomentar uma contra-insurgência (política também “importada” do Iraque).
2 – Produção de coca cresce na Colômbia
A Plano Colômbia, a política americana de ajudar a Colômbia a reduzir a produção de coca, não só tem sido infrutífero, diz a FP, como também contraproducente. Um levantamento da ONU indica que a área usada para produção de coca no país aumentou 27% no ano passado em relação a 2006. Os EUA já gastaram U$ 6 bilhões com o Plano Colômbia, mas o país sul-americano continua a fornecer 90% da cocaína que entra em território americano. Hora de mudar a estratégia da guerra ao narcotráfico, sugere a revista.
3 – O próximo Darfur
Darfur ainda não recebeu a atenção merecida e uma nova crise humanitária já está perto de explodir no Sudão. A região do Cordofão do Sul, nas Montanhas da Núbia, pode virar palco de um conflito entre forças do Sudão do Sul (região autônoma do Sudão), do governo central (Cartum) e de grupos locais, especialmente os núbios. Os três lados dessa briga estão se armando visando assegurar a vitória nas eleições gerais do próximo ano. A violência entre agricultores núbios e nômades árabes, algo muito parecido com o que ocorre em Darfur, deixou centena de mortes neste ano.
4 – EUA ajudam Índia a construir escudo anti-míssil
Enquando Putin rugia sobre o escudo antimíssil americano na Polônia, Robert Gates, o “atual e futuro” Secretário de Defesa dos EUA, assinou acordo de defesa bastante parecido com os indianos. Ainda está em estágio preliminar, mas o projeto tem tudo para criar tensão com os chineses. E também o vizinho-rival-nuclear Paquistão, claro. O maior vencedor dessa história? A empresa americana Lockheed Martin, maior fabricante de produtos militares do mundo, que já ofereceu seu sistema de defesa de mísseis para o governo indiano e deve tirar uma graninha.
5 – Russia is cool Africa thinks
A história conhecida: a China começou uma espécie de neo-colonização da África, investindo pesado nos países do continente em troca de petróleo e gás. A história desconhecida: a Rússia está fazendo o mesmo. O Kremlim já tem contratos com Argélia, Angola, Egito, Costa do Marfim, Nigéria e está próximo de firmar um com a Líbia. Este último, se proceder, deve garantir à Rússia o controle total do fornecimento de gás para a União Européia. Certamente, uma notícia que fará os europeus chorarem vodca. A revista lembra que a Rússia cancelou US$ 20 bilhões em dívidas africanas e rejeitou sanções contra o Zimbábue no Conselho de Segurança da ONU.
6 – Painéis solares colaboram com efeito estufa
De longe, a notícia que mais me surpreendeu. Quem sabe seja apenas histeria (anti?) ambientalista, mas vá lá. Há bons indícios para acreditar que a energia solar é altamente poluente. Estudo da Universidade da Califórnia em Irvine indica que o gás NF3 (tri-fluoreto de nitrogênio) é emitido em grandes quantidades no processo de fabricação das placas solares. E aqui o problema: o efeito estufa das emissões de NF3 chega a ser 17 mil vezes mais potente do que o de CO2. O NF3 nunca foi objeto de preocupação dos ambientalistas, inclusive nem faz parte do Protocolo de Kyoto, o que, claro, incentivou muitas empresas que precisam reduzir seus níveis de emissões a usá-lo. Resultado: o nível do gás na atmosfera é quatro vezes maior do que o imaginado e sua concentração cresce a 11% ao ano.
7 – Aço de Xangai não passa em teste de segurança
Se os skylines de Xangai são um símbolo do crescimento chinês, quem sabe o crescimento chinês não seja lá tão sustentável quanto se imagina. De 52 lotes de aço testados pela Associação Comercial da cidade, 27 estavam leves demais de acordo com a legislação chinesa. Alguns estavam pesando menos do que o ferro, o que é incrível, como diz um professor de engenharia, porque o ferro é componente primário do aço. Logo, não há ferro, logo, não há aço. E aí a China é lugar de terremotos e sabe-se lá o que pode acontecer se houver tremores em Xangai.
8 – Ajuda para Geórgia financia hotel de luxo
Os EUA deram U$ 1 bilhão para ajudar na reconstrução da Geórgia após a guerra com a Rússia. A intenção era ajudar as cidades mais danificadas pelos ataques e as famílias refugiadas. Mas U$ 176 milhões dessa grana foram usados como empréstimos para empresas – incluindo U$ 30 milhões para a construção de um hotel de luxo em Tbilisi, capital da Geórgia, numa área que nem sequer foi atingida pela guerra. Viva o dinheiro do contribuinte americano, que parece não acabar mais…
9 – Americano é condenado por torturar no exterior
A lei que permite esse tipo de julgamento existe desde 1994, mas só neste ano os EUA condenaram um cidadão americano por praticar tortura em solo estrangeiro. O infeliz foi Charles Taylor Jr, filho do monstro Charles Taylor, ex-presidente da Libéria e hoje prisioneiro de Haia. Taylor Jr., ou Chuckie, foi considerado culpado de tortura quando chefiou o unidade anti-terrorista da Libéria (conhecida como “Forças do Demônio”) durante o governo de seu pai (de 1999 a 2002). A mesma lei que permitiu a prisão de Chuckie também autoriza os EUA a julgarem cidadãos de outros países que estejam em território americano e são acusados de cometer tortura no exterior — fato que ainda não aconteceu, mas os ativistas de direitos humanos não perdem a esperança.
10 – EUA vendem “arma sonora” para a China
Desde o massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, Washington impôs um pesado embargo à venda de armas para a China. A revista pergunta: como, então, uma empresa americana vendeu ao governo chinês uma poderosa arma para dispersar manifestantes pouco antes da Olimpíada de Pequim? A “arma” chama-se LRAD (siglas em inglês para “Dispositivo Acústico de Longo Alcance”). É como se fosse um megafone do tamanho de uma antena parabólica, que pode emitir sons tão agudos – chega a 150 decibéis — capazes de deixar qualquer pessoa fora de combate. Em alguns casos, causa perda de audição. Em comparação, o limite máximo de barulho permitido em Curitiba é de 70 decibéis para o período diurno. A China, pelo que se sabe, ainda não usou o aparelho.
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