Então, vamos lá, algumas considerações sobre o dia de ontem:
* O discurso teve altos e baixos. De certo que os clichês são inevitávies nessas horas, mas Obama poderia ter feito melhor. De qualquer forma, é possível que a gente não veja nada parecido com a festa de ontem no decorrer de nossas vidas, pelo menos não por causa de um presidente dos EUA, de modo que a própria celebração em si já foi um fato bastante expressivo.
* A frase que Bush poderia ter dito: “Não vamos nos desculpar por nosso modo de vida, nem vamos esmorecer em sua defesa, e para aqueles que buscam fazer avançar suas metas pela indução ao terror e massacrando inocentes, dizemos a vocês agora que nossa determinação é mais forte e não pode ser quebrada; vocês não podem nos esgotar e vamos derrotar vocês.”
* A frase que a mutação entre Jimmy Carter e Al Gore poderia ter dito: “Com velhos amigos e antigos inimigos, vamos trabalhar incansavelmente para reduzir a ameaça nuclear, fazer retroceder o espectro de um planeta em aquecimento.” (Eu também não entendi o que significa “retroceder o espectro de um planeta em aquecimento”).
* A frase que Lula poderia ter dito: “Neste dia, nos reunimos porque escolhemos a esperança no lugar do medo, unidade de propósito no lugar do conflito e da discórdia.”
* A frase que um estudante de Ciências Sociais da Federal poderia ter dito: “Para as pessoas das nações pobres, nos propomos a trabalhar com você para fazer suas fazendas florescerem e deixar águas limpas correrem; para nutrir corpos famintos e alimentar mentes famintas. E para aquelas nações como a nossa que usufruem de relativa fartura, dizemos que não podemos mais mantermos a indiferença ao sofrimento fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem considerar os efeitos. pois o mundo mudou, e precisamos mudar com ele.”
* A frase que um multiculturalista poderia ter dito — ops, acho que esse é o próprio Obama: “Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus –e não-religiosos. Somos moldados por cada idioma e cultura, vindo de cada canto desta Terra; e porque experimentamos o gosto amargo da guerra civil e da segregação, e emergimos daquele capítulo obscuro mais fortes e mais unidos, não podemos evitar acreditar que os velhos ódios um dia vão passar;”
* A mudança também chegou ao site da Casa Branca.
* No Quênia, grupos rivais se juntaram para comemorar a posse de Obama. Pode paracer ingênuo, mas fico feliz em ver esse tipo de coisa.
* Porque elas não paravam de falar sobre isso na Redação: aquele vestido da Michelle Obama estava muito estranho. Era o tipo de roupa que minha vó usaria para parecer moderna. Numa certa altura eu juro que confundi o cachecol solto com um colete à prova de balas.
* Suspeito que 9 em 10 pessoas que assistiram à posse se perguntaram: cadê o tiro? (o que também explica a minha visão do colete à prova de balas).
* Fala-se muito das guerras, da economia e do Katrina, mas, pelo que acompanhei nos grandes jornais brasileiros, a questão da tortura, de Guantánamo e de Abu Ghraib é muito pouco discutida quando se analisa o legado Bush. E isso apesar de ser o maior escândalo de seu governo. O caso contra a tortura não é só de moralismo barato — “os meios não justificam os fins” –, embora isso também. Outros argumentos: 1) a distância entre torturar um terrorista e um preso ordinário é menor do que parece; 2) quando esse tipo de prática é legalizada, a possibilidade de um inocente sofrer abusos aumenta exponencialmente. Confesso que tento entender o outro lado, o dos defensores. Sempre me lembro daquela pergunta maldita: se você fosse o responsável pela custódia de um terrorista com informações sobre um atentado, e soubesse que a tortura poderia ser eficiente para conseguir essas informações, você permitiria a tortura? O que é mais imoral: torturar um maluco que quer matar civis em seu país ou deixar que milhares de inocentes morram? Também não se trata de eficiência — há casos bem documentados de que a tortura funciona. Mas além dos argumentos anteriores, basta olhar essas fotos e saber que elas não foram ações isoladas de um grupo de indivíduos — e sim incentivadas pela própria cúpula do governo — para refutar qualquer iniciativa em favor dessa prática.
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