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Para o movimento antiamericano de modo geral, no Brasil e no resto do mundo, os defeitos de Bush são diretamente proporcionais* às qualidades de Obama. O que sugere uma pergunta interessante, caso uma vitória democrata, sobre o futuro de quem enxerga nos EUA o grande satã imperialista e mal maior do progresso mundial: que serão deles?

Dizer que a vitória de Obama é prova da superioridade da democracia americana é o equivalente, no jargão jornalístico, à notícia “cachorro morde homem”. Mas, de qualquer forma — como se ainda fosse necessário –, deixará isso bem claro: nós, miscigenado e pacífico povo brasileiro, estamos longe, bem longe do atual estágio de civilização alcançado pelos americanos.

Dito isso, fico aqui a pensar na tremenda falta de nexo entre ser de ser esquerda no Brasil (da linha ideológica de Emir Sader e cia) e apoiar um governo Obama nos EUA. Como mostra a reportagem de capa da Newsweek desta semana, os Estados Unidos continuarão um país de centro/centro-direita. É certo que Obama acredita no poder do caixa do Estado para resolver problemas de saúde e desemprego – um posição claramente de esquerda. Mas suas idéias sobre o mercado estão anos-luz à frente do que pregam nossos apocalípticos esquerdistas sobre a morte do capitalismo. Ainda que Obama fosse um Aldo Rebelo das Américas (e não é), a cultura de mercado tem raízes sólidas o bastante para não evaporar do país em apenas quatro ou oito anos. Continuaremos a ser bombardeados por McDonalds e Blockbusters.

Na política externa, Obama tampouco marcará, de forma alguma, o fim do intervencionismo de Washington. Em ocasiões diferentes, o democrata já defendeu a invasão de Zimbábue, Sudão e, no caso mais conhecido, Paquistão. Na sua coluna na Salon, Camille Paglia fala justamente de seu temor de que Obama, para desfazer a imagem de fraco em política externa, acabe trocando os pés pelas mãos e entre, mais rápido do que se imagina, em conflitos desnecessários — ênfase em desnecessários, e não em conflitos (numa posição que sem problema algum poderia ser chamada de conservadora, ela faz uma defesa bastante clara da importância dos militares para a preservação das liberdades civis).

Do Cáucaso a Kandahar e de Pequim à Palestina (sim, a América Latina continuará esquecida), Obama herdará um mundo com inúmeros desafios para a manutenção dos EUA como a potência dominante deste século – e, dadas as opções, um status cada vez mais indispensável. Muito menos a Al-Qaeda sairá de férias num resort em Dubai enquanto Obama for presidente. Ele sabe disso. É até possível que em seu governo os internacionalistas ganhem algum espaço, mas Obama nunca foi claramente contra ataques preventivos e é claramente a favor de um intervencionismo humanitário à moda Clinton.

Tudo isso me deixa a pensar como será a reação da turma do antiamericanismo, não só do grosseiro, aos moldes Chávez/Sader, mas também do “sútil”, o da sala de aula das universidades e do Itamaraty, ao governo de Obama.

Essa reação é até, de certa forma, previsível — visto que o problema não é Bush, e sim um sentimento mais comumente conhecido como inveja. O antiamericanismo, afinal de contas, é inerente à própria posição de liderença do país.

Agora, sério, já imaginou se o McCain ganha? A quantidade de absurdo que se falará sobre os Estados Unidos será tediosamente inesgotável.

* O post original dizia erroneamente que os defeitos de Bush eram inversamente proporcionais às qualidade de Obama. O texto já foi arrumado. Grato ao leitor IceKrill pela atenção.

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