Desde ontem à noite até a próxima terça-feira, todos os pães e cervejas de Israel serão de propriedade de um árabe muçulmano.
A coisa funciona assim. Segundo a tradição religiosa, os judeus devem se livrar do chametz – comida fermentada – uma semana antes da comemoração do Pessach, a Páscoa judaica (nesse ano, na quarta-feira da semana que vem). Após uma busca detalhada, à luz de vela, por qualquer vestígio de pão em suas casas, os judeus fazem uma pequena fogueira para queimar o chametz. Às vezes a limpeza da casa tem início meses antes do Pessach. Outros, menos ortodoxos, apenas juntam os alimentos fermentados numa caixa e a esquecem por uma semana dentro de um armário.
Mas se livrar de todo o chametz do país provou-se economicamente inviável. Empresas estatais e presídios, por exemplo, têm grandes estoques de pão e macarrão. A solução encontrada por Israel foi fazer um acordo com um goy (um gringo, em tradução livre). Durante uma semana, ele se torna proprietário de todos os produtos fermentados no país.
Nos últimos 12 anos anos, esse homem é Jaaber Hussein, um muçulmano gerente de hotel em Abu Ghosh, pequena cidade próxima de Jerusalém. Hussein paga US$ 4.800 por toda a comida, que vale cerca de US$ 150 milhões. Em teoria, ao final dos oito dias, ele pode escolher: ou revende os pães pelo preço que comprou aos proprietários originais, ou decide ficar com tudo (desta vez pagando o valor real – opção que ele nunca escolheu).
O Pessach é comemorado todos os anos para lembrar o êxodo dos hebreus do Egito. Mais precisamente a salvação dos primogênitos judeus durante a passagem do anjo da morte — a 10ª praga que Deus enviou contra o povo egípcio. Os hebreus teriam saído com tanta pressa do Egito que não tiveram tempo para esperar o pão fermentar — por isso a proibição desse tipo de alimento durante essa semana.
Como seria esperado, a questão de o Estado proibir o consumo de comida fermentada levanta bastante discussão em Israel (num paralelo não exatamente correto, alguém também poderia se sentir prejudicado pelo feriado desta sexta-feira no Brasil). No ano passado, a Justiça israelense reviu uma decisão de 1986 que proibia a exibição de chametz em lugares públicos. Agora é permitido a restaurantes venderem comida fermentada, sem perigo de serem multados. Os ultraortodoxos, claro, não gostaram da decisão. Neste ano, segundo reportagem do Independent, os religiosos de Jerusalém enviaram cartas aos donos de padarias e supermercados pedindo que não vendessem pães ou pizzas durante a semana, sob risco de a cidade ser castigada por Deus.
Na matéria, Menachem Friedman, um sociólogo da Universidade de Bar Ilan, diz que Israel possui “elementos de uma teocracia”. Verdade, mas com a grande diferença de que em Israel o Estado legisla sobre a instituição religiosa, e não o contrário, como no Irã, por exemplo.
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