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Todos conhecemos a expressão “a vaca foi para o brejo”. Cogitei usá-la para o título do artigo de hoje, mas já não seria suficiente como metáfora que ilustrasse a situação em que o Brasil se meteu. Melhor dizendo, a armadilha em que, com a ajuda da imprensa, a elite econômica e judicial do País aprisionou nossa população, em particular a classe média e média alta. Assim, mudei de metáfora para hipérbole, pois não foi apenas uma das vacas que se perdeu em terreno úmido, mas um vasto rebanho inteirinho. Pensei melhor e achei que o termo rebanho ainda seria tímido para descrever a catástrofe e o troquei por um substantivo coletivo de animais de maior porte: manada. Mais uma reflexão frente o noticiário recente (esse sim hiperbólico) e lembrei de que brejo é um fenômeno geológico comum e muito menos perigoso que a areia movediça. Assim, nasceu a nova e tropical figura descritiva de linguagem para os tempos atuais: “a manada caiu na areia movediça”, pois resume com um pouco mais de cores a situação apavorante em que os brasileiros agora se encontram.
Já avisei no meu artigo “Novas invasões bárbaras: protejam-se!”, publicado em nove de novembro, (do qual recomendo a leitura, pois tornou-se um preâmbulo ao artigo de hoje) que não ouso invadir campos de análise para além da educação. Mas há análises gerais sobre o que vem pela frente que estão relacionadas ao meu tema que ajudam a entender o que vou relatar aqui hoje.
Em primeiro lugar, quem tem lido o jornal nos últimos dias já entendeu que o PT social democrata paz e amor morreu e que seu substituto é radical, truculento, antidemocrático e vingativo. Voltaram para não deixar pedra sobre pedra. Não será diferente na educação, base do plano de “governo”, em longo prazo, do que nos acostumamos a chamar de esquerda (mas que não é nada mais do que um grupo seleto de pessoas que quer viver bem e trabalhar pouco e que usa o estado para seus propósitos – o que inclui destruir a democracia, pois quem fica de fora e paga a conta gosta de reclamar).
Ao longo dos próximos anos, a classe média será destruída por meio do aumento dos impostos e inflação, pois é urgente transformar esse contingente de reclamões, insatisfeitos e ingratos (lembram?) em uma base eleitoral rastejante, manipulada e agradecida pelo novo Bolsa Família e outras esmolas estatais. O estado vai ficar com tudo o que você tem para lhe “dar”, “de graça”, do modess ao material didático, da vacina ao botijão de gás. Você se sentirá sem medo de ser feliz.
De forma ainda mais contundente, nas escolas, que só existem para empregar a massa de manobra de militantes que vai pegar em armas e pôr fogo em pneus para mostrar, nas ruas, quem é que manda no país todo, vamos continuar a ver muita doutrinação e nada de ensino. Ensinar de verdade dá muito trabalho e ninguém desse grupo autoentitulado “esquerda” (nome marketeiro para psicopatas folgados que disputam espaço dentro do estado) está aí para ralar pela preservação da burguesia ou da “classe mérdia”. Vai ter muito papo, debate, muita atividade lúdica, muita formação de senso crítico (só para algumas coisas) e nada de matemática – há apps e computadores para isso – e de gramática – algo maçante e opressor. O interesse permanecerá pela disputa a respeito do melhor pronome ideológico.
Na cultura, saem de cena o restauro de patrimônio histórico e fomento à manifestações originais locais. Voltam com força os mega shows pausterizados para a animar maçaroca tosca com grandes artistas, aqueles que tanto se empenharam em fazer um ângulo de 90º com os dedos indicador e polegar.
O que esperar desses psicopatas do poder a todo custo em relação ao futuro cognitivo das próximas gerações de brasileiros? O que vai acontecer no seio de suas famílias nos próximos anos, meus caros leitores? Melhor é checar a realidade: vamos ao 1º decreto do Ministério da Educação da Nova Era Lula que estabelece sua nova estrutura (11.342 de 1/1/23- link abaixo). Destaco alguns pontos.
Criação de novo órgão de assistência direta e imediata (ou seja, em paralelo com o gabinete do ministro, com poder e salário mais alto e ligação direta com a presidência da República): Assessoria de Participação Social e Diversidade, à qual compete:
I - articular e promover, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República, as relações políticas do Ministério com os diferentes segmentos da sociedade civil;
II - fortalecer e coordenar os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil;
III - fomentar e estabelecer diretrizes e orientações à gestão de parcerias e relações governamentais com organizações da sociedade civil; e
IV - assessorar direta e imediatamente o Ministro de Estado, quanto às competências específicas do Ministério, na formulação de políticas e diretrizes para: a) a promoção da participação social e da igualdade de gênero, étnica e racial; b) a proteção dos direitos humanos; e c) o enfrentamento de desigualdades sociais e regionais.
Esse órgão será o instrumento para induzir o colaboracionismo das “ONGs”, que de “não governamentais” não têm nada, além de alguns políticos, empresários e veículos de mídia a elas ligados. Reparem que a coordenação será feita diretamente pela Presidência da República. Ou reza pela cartilha do PT ou não recebe dim-dim, nem sequer consegue uns minutinhos na agenda do ministro, para exibir prestígio à sua base. Precisa de ajuda com votos no Congresso? Dá uma passadinha ali no MEC que a gente vê o que pode fazer.
Por outro lado, do ponto de vista das políticas educacionais em si, foram extintas a Diretoria de Políticas para Escolas Cívico-Militares e a Secretaria de Alfabetização.
A Diretoria de Escolas Cívico-Militares estava vinculada à Secretaria de Educação Básica e era responsável, entre outras atribuições, por formular, coordenar, promover o modelo, monitorar e avaliar a implementação de políticas, programas e ações para escolas cívico-militares; usar como referência os “padrões de ensino e gestão empregados nos colégios militares do Exército, das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares, para os ensinos fundamental e médio, em consonância com a legislação educacional vigente”.
O que vai acontecer agora é que governadores e prefeitos serão pressionados brutalmente, tanto por mecanismos legítimos (mas não muito morais) de cortes e reformulação de verbas e exposição política, quanto ilegítimos (como sabotagens de toda sorte que jamais serão investigados pelo aparato judicial), para além do já usual colaboracionismo de ONGs, que não conseguem competir com o modelo que é tão popular naquela coisa estranha chamada povo, e da imprensa, que só promove conceitos e práticas educativas alternativas que semeiam o substrato favorito da esquerda: o caos institucional. Regras e disciplina atrapalham a agenda e precisam ser banidas e sempre desqualificadas.
Também foi extinta – para surpresa de ninguém – a Secretaria de Alfabetização, que era a instância responsável por implementar a Política Nacional de Alfabetização (PNA) instituída pelo Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019. Vejam que nem é preciso revogar o decreto e ter de arcar com o custo de fazê-lo. Como não haverá nenhuma gavetinha institucional responsável pela política (portanto, não há orçamento), ela morre de inanição.
Alguém poderia dizer: “ah, mas a Secretária Executiva do MEC veio de Sobral e lá se alfabetiza todo mundo, começando pela educação infantil, como está na PNA”.
Pessoal, aprendam: o que se chama de esquerda (mas que é, na verdade, um grupo restrito de pessoas muito amigas do alheio, como bem descreveu Lady Tatcher) não tem nenhum pudor em mentir e enganar. Faz-se o diabo para se apoderar do estado e dalí tirar seu poder tirânico e proventos generosos. Sobral vai continuar onde está e o MEC não vai transpor nenhuma linha do que foi feito lá, pois alfabetizar a população de crianças em tenra idade para que elas aprendam a pensar não está em seus planos.
Em seu lugar, volta a famosa SECADI, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, que conta com três diretorias: Políticas de Educação do Campo, Indígena e para Relações Étnico-Raciais; Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos; Políticas de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva; Políticas de Educação para as Juventudes.
“Ah, mas pelo menos vai haver atenção para a alfabetização de jovens e adultos e isso é muito bom”. Se você, caro leitor, tivesse lido Paulo Freire e sua cartilha de alfabetização de São Tomé e Príncípe, que foi descolonizada de Portugal depois que os amigos comunas tomaram o poder em 25 de abril de 1974, saberia que a Educação de Jovens e Adultos só interessa aos governos na medida em que se transformam em ações diretas de doutrinação político-partidária de cunho imediatamente eleitoral. Vejam ilustração a seguir, tirado da publicação que está neste link:
É dessas diretorias que vai sair material e orientações para livros didáticos e afins a serem produzidos pelo Ministério da Educação. Guardem e cobrem. Vejam os temas: Educação do Campo (MST e desqualificação da propriedade privada da terra produtiva, em especial a de larga escala); Indígenas e mais uma razão para questionar a propriedade da terra produtiva; Relações Étnico-Raciais em detrimento do ensino formal de disciplinas universais como a língua oficial e Matemática; Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos – quando se fala em alfebetização neste novo governo será apenas a descrita acima, do tipo paulofreriana; Políticas de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, ou seja, tchau APAEs e centros especializados, acabou a grana e agora os alunos serão jogados nas salas de aulas super progressistas que “incluem” todo mundo e não ensinam ninguém; Políticas de Educação para as Juventudes – juventudes são só aquelas de pautas e perfis progressistas, o jovem evangélico, que trabalha de dia e estuda à noite, que quer formar família e não se mete com drogas está fora.
Feliz 2023!
Para quem quiser comparar em mais detalhes os dois decretos de estrutura do MEC, seguem os links:
Estrutura atual: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-11.342-de-1-de-janeiro-de-2023-455351302
Estrutura anterior: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D10195.htm#art9
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima